Por João Duque
QUANDO EM 1998 nos preparávamos para aderir ao euro participei em inúmeras reuniões de trabalho para prever as consequências e questões práticas dessa adesão. Para além das questões legais que se colocavam, os detractores de tanto tempo consumido em reuniões e demais preparações sumariavam todo o esforço à "questão dos arredondamentos". Isto é, para além de leis que obrigavam a que nenhum devedor se furtasse ao pagamento de dívidas em escudos (moeda que ia desaparecer, podendo invocar-se que não se poderia entregar o que já não existia), as questões resumiam-se a muito trabalho de computação para preparar os sistemas às novas unidades monetárias, à educação para a nova moeda, e aos arredondamentos (para que contas iriam verter todos os arredondamentos feitos em milhões de contas).
Hoje há já países recentemente chegados ao euro que expressam opinião pública, através dos seus ministros, de que Portugal deveria sair do euro e é com tristeza que assisto a um governo impávido e sereno a ver pespegarem-lhe com tudo isto na cara sem que tenha a mais pequena reacção ao tema ou que explique aos portugueses quais os problemas que se colocariam a essa nova mudança.
Podemos pensar que sair do euro é simplesmente o movimento inverso ao da entrada. Isto é, pode imaginar-se que o problema se resume, mais uma vez, à lei, à educação, à informática e aos arredondamentos. Mas não. O problema é que agora, ao contrário do que sucedeu na entrada, a moeda de que sairíamos continuaria a existir, pelo que a questão legal passa a ser bem diferente da anterior, porque teria imediatas e pouco conhecidas consequências económicas. Antes, quando entrámos, bastava decretar que todos os títulos expressos em escudos (e que são passivos ou deveres de uns, são activos ou direitos para outros) seriam automaticamente convertidos em euros. Caso o não fossem caducariam pela impossibilidade de entrega do que já não existia. Hoje, porém, se saíssemos do euro, essa moeda ainda existiria e haveria que decidir se converteríamos ou não na nova moeda todos, só alguns, ou só os novos os activos e passivos, à medida que fossem criados.
A discussão da valorização das variáveis ‘stock' (direitos existentes), associada à da valorização das variáveis fluxo (rendimentos futuros gerados já na nova moeda escudo se originados internamente, ou noutra moeda, se produzidos externamente), e, ainda mais relevante, a discussão em torno da potencial reacção dos mercados a esta conversão, ou sobre o interesse desses mercados por activos expressos no novo escudo está ainda por fazer. Mas uma coisa parece-me certa: se convertermos todos os direitos e responsabilidades na nova moeda, com a desvalorização imediata que prevejo, com o pouco crescimento que a nossa economia parece prometer, mesmo num regime de câmbios livre e controlado pelo nosso Banco Central, teríamos a debandada generalizada dos credores internacionais que veriam nessa desvalorização um forte ‘hair cut' nas suas posições. E pergunto, quem depois subscreveria novas emissões de dívida feitas em escudos? E que taxas não teríamos de oferecer para atrair novos credores? Deus queira que essa não seja a contrapartida exigida pelos "amigos" (FMI e Fundo Europeu de Estabilização Financeira) que prevejo cada vez mais prováveis a envolverem-se na nossa recuperação.
.Hoje há já países recentemente chegados ao euro que expressam opinião pública, através dos seus ministros, de que Portugal deveria sair do euro e é com tristeza que assisto a um governo impávido e sereno a ver pespegarem-lhe com tudo isto na cara sem que tenha a mais pequena reacção ao tema ou que explique aos portugueses quais os problemas que se colocariam a essa nova mudança.
Podemos pensar que sair do euro é simplesmente o movimento inverso ao da entrada. Isto é, pode imaginar-se que o problema se resume, mais uma vez, à lei, à educação, à informática e aos arredondamentos. Mas não. O problema é que agora, ao contrário do que sucedeu na entrada, a moeda de que sairíamos continuaria a existir, pelo que a questão legal passa a ser bem diferente da anterior, porque teria imediatas e pouco conhecidas consequências económicas. Antes, quando entrámos, bastava decretar que todos os títulos expressos em escudos (e que são passivos ou deveres de uns, são activos ou direitos para outros) seriam automaticamente convertidos em euros. Caso o não fossem caducariam pela impossibilidade de entrega do que já não existia. Hoje, porém, se saíssemos do euro, essa moeda ainda existiria e haveria que decidir se converteríamos ou não na nova moeda todos, só alguns, ou só os novos os activos e passivos, à medida que fossem criados.
A discussão da valorização das variáveis ‘stock' (direitos existentes), associada à da valorização das variáveis fluxo (rendimentos futuros gerados já na nova moeda escudo se originados internamente, ou noutra moeda, se produzidos externamente), e, ainda mais relevante, a discussão em torno da potencial reacção dos mercados a esta conversão, ou sobre o interesse desses mercados por activos expressos no novo escudo está ainda por fazer. Mas uma coisa parece-me certa: se convertermos todos os direitos e responsabilidades na nova moeda, com a desvalorização imediata que prevejo, com o pouco crescimento que a nossa economia parece prometer, mesmo num regime de câmbios livre e controlado pelo nosso Banco Central, teríamos a debandada generalizada dos credores internacionais que veriam nessa desvalorização um forte ‘hair cut' nas suas posições. E pergunto, quem depois subscreveria novas emissões de dívida feitas em escudos? E que taxas não teríamos de oferecer para atrair novos credores? Deus queira que essa não seja a contrapartida exigida pelos "amigos" (FMI e Fundo Europeu de Estabilização Financeira) que prevejo cada vez mais prováveis a envolverem-se na nossa recuperação.
«DE» de 30 Dez 10