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Por João Paulo Guerra
O MINIsTRO Fernando Teixeira dos Santos não tem culpa que lhe queiram dar e lhe dêem graxa. De maneira que a crítica vai inteirinha para o autor de uma suposta notícia que pretenderia glorificar o ministro das Finanças, apresentando-o como "o décimo sexto melhor da Europa em 2010", numa tabela elaborada pelo Financial Times e que contemplava um "total de 19 governantes". Ou seja, o ministro estaria à beira de disputar a "liguilha" para descida de divisão, se falássemos de futebol, ou em vias de despedimento, se se tratasse de avaliação pelos respectivos superiores no âmbito de uma repartição pública. Porque na verdade, "o décimo sexto melhor", num universo de dezanove, é mais propriamente o quarto pior.
Mas este é um bom exemplo para caracterizar o regresso do espírito de bajulação - se é que alguma vez ele se foi embora - tão característico dos tempos em que estava "tudo bem assim" e o chefe tinha sempre razão. Eram os tempos dos "muito bem", dos "apoiado", com que as solenes assistências pontuavam os enfáticos discursos dos próceres do regime. Alguns exageravam e conta-se que um governador civil de Lisboa, muito dado a discursos engraxadores, chegou a ser mandado calar por despacho da Presidência do Conselho.
Agora que o situacionismo instalou o faz-de-conta, a encenação, o culto da imagem sobre o inculto do discurso, a par do carreirismo, da lisonja, da adulação e também da reverência e do medo, eis de novo os homens providenciais ao leme do país, a avaliar por certas notícias publicadas no diário de bordo.
Pegar numa tabela de dezanove lugares e designar o pré-antepenúltimo como "décimo sexto melhor" é algo de caricato, que enxovalha o rigor jornalístico. Mas o mais dramático é que a caricatura é um sinal dos tempos.
.Por João Paulo Guerra
O MINIsTRO Fernando Teixeira dos Santos não tem culpa que lhe queiram dar e lhe dêem graxa. De maneira que a crítica vai inteirinha para o autor de uma suposta notícia que pretenderia glorificar o ministro das Finanças, apresentando-o como "o décimo sexto melhor da Europa em 2010", numa tabela elaborada pelo Financial Times e que contemplava um "total de 19 governantes". Ou seja, o ministro estaria à beira de disputar a "liguilha" para descida de divisão, se falássemos de futebol, ou em vias de despedimento, se se tratasse de avaliação pelos respectivos superiores no âmbito de uma repartição pública. Porque na verdade, "o décimo sexto melhor", num universo de dezanove, é mais propriamente o quarto pior.
Mas este é um bom exemplo para caracterizar o regresso do espírito de bajulação - se é que alguma vez ele se foi embora - tão característico dos tempos em que estava "tudo bem assim" e o chefe tinha sempre razão. Eram os tempos dos "muito bem", dos "apoiado", com que as solenes assistências pontuavam os enfáticos discursos dos próceres do regime. Alguns exageravam e conta-se que um governador civil de Lisboa, muito dado a discursos engraxadores, chegou a ser mandado calar por despacho da Presidência do Conselho.
Agora que o situacionismo instalou o faz-de-conta, a encenação, o culto da imagem sobre o inculto do discurso, a par do carreirismo, da lisonja, da adulação e também da reverência e do medo, eis de novo os homens providenciais ao leme do país, a avaliar por certas notícias publicadas no diário de bordo.
Pegar numa tabela de dezanove lugares e designar o pré-antepenúltimo como "décimo sexto melhor" é algo de caricato, que enxovalha o rigor jornalístico. Mas o mais dramático é que a caricatura é um sinal dos tempos.
«DE» de 9 Dez 10