segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O problema não é bem esse

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Por Helena Matos

A QUESTÃO dos vencimentos dos funcionários públicos dos Açores não é propriamente um assunto de solidariedade ou de falta dela. Não partilho duma visão igualitária da sociedade e não me choca particularmente que um governo regional possa alterar o sistema de vencimentos da função pública daquela região. (O que já não me parece normal é que uma região autónoma possa alterar os poderes do seu parlamento, do parlamento nacional e do presidente da república, como tentou fazer o governo regional dos Açores, e que os partidos assobiem para o ar, deixando o único que tentou travar efectivamente este desmando, no caso o presidente da república, a falar sozinho).

Mas voltemos aos cortes nos vecimentos dos funcionários públicos dos Açores. Quando Carlos César declara que o apoio aos funcionários “não custa um cêntimo” ao Estado porque vai ser utilizado dinheiro que já está afecto à Região Autónoma dos Açores revela duas coisas: a primeira prende-se com a concepção do Estado como um fabricante de dinheiro. Donde vem o dinheiro que já está afecto à Região Autónoma dos Açores: do céu? Dos vulcões? Da Atlântida? A não ser que as rotativas loucas tenham voltado a trabalhar o dinheiro vem dos impostos ou de empréstimos pagos com impostos. Logo todos os cêntimos dessa medida do governo dos Açores virão do bolso dos contribuintes. Mas enfim até aqui nada de novo: todos os dias somos bombardeados com o SNS gratuito e com a escola gratuita, quando na verdade esse gratuito nos sai caríssimo.

O verdadeiro escândalo desta medida de Carlos César é que ela revela que ele trata dos interesses da rede indispensável à sua manutenção no poder - funcionários públicos – e se está bem nas tintas para o povo dos Açores: para que os funcionários públicos ganhem mais os açoreanos que não são funcionários públicos vão receber menos. Pois se a verba estava afecta à Região Autónoma para algo seria. Ou não? Enfim, já se sabe que os serviços, as acções de promoção, os gabinetes, as direcções disto e daquilo… absorvem a quase totalidade dos recursos do estado dito social. O que Carlos César fez foi assumir sem rodeios que o dinheiro é mesmo para isso: para sustentar a malta. Aquela malta que mal se fala em abrir sectores à iniciativa privada, em acabar com a mistificação do gratuito… faz um ar piedoso, gritam solidariedade e clama pelo estado social. Ou seja o seu tacho.
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In Blasfémias