sábado, 4 de dezembro de 2010

O Dia da Restauração

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Por Antunes Ferreira

O DIA DA RESTAURAÇÃO já lá vai. Passados dois dias do feriado (motivo que leva muito boa gente a comemorá-lo patrioticamente) dou-me conta de uma entrevista sobre o tema, dada pelo chefe da Casa Real, D. Duarte de Bragança, à Lusa. Disse o ilustre Senhor que os cem anos de regime republicano, recentemente comemorados, têm sido «uma grande perda de tempo», visto que todas as realizações da república estavam igualmente ao alcance da monarquia e podiam ter sido obra desta. O eterno pretendente à Coroa, no singular, poderia muito bem ter afirmado, convictamente, que se o pai dele não tivesse morrido, ainda hoje era vivo.

D. Duarte Pio ainda teve tempo para se referir ao facto, no seu entender, de o País estar falido, o que nem é de espantar pois, após esses cem anos de desgraças, Portugal volta «à situação dramática em que nos encontrávamos no começo da República», ou seja, a falência. De passagem, aproveitou para igualizar os três movimentos militares que marcaram o século XX português: «Cada um desses golpes militares - 1910, 1926 e 1974 - provocou grandes perturbações, grandes atrasos na nossa economia, até situações de perseguição e perturbações políticas gravíssimas».

O chefe da Casa de Bragança repetiu que «um rei facilitaria a unidade dos países lusófonos porque não se punha tanto o problema de quem seria a chefia de Estado dessa união». Donde, é mais do que absolutamente necessária a restauração da monarquia. Se houvesse um referendo, D. Duarte acredita, piedosamente, que a esmagadora maioria dos Portugueses escolheria o regime monárquico.

Até aqui, nada de inédito, nem de muito mérito. O curioso foi a novidade que revelou: pediu a nacionalidade timorense, devido às «relações profundas com Timor-Leste». Presume-se que são as dele, porque acentuou especificamente que «gostaria de ter a nacionalidade timorense»; para isso, «a Casa Real já encetou os contactos para a obtenção da dupla nacionalidade, portuguesa e timorense, através de um pedido comunicado ao Presidente José Ramos Horta». E que sempre apoiou a causa da independência timorense. «Eu sou o liurai de Portugal». Bonita comparação, acrescento eu.

Estas declarações do pretendente desenganado, levam-me a que vos confidencie que tenho defendido, entre a brincadeira e a convicção (mais a segunda do que a primeira), que face às ocorrências do Primeiro de Dezembro de 1640, quem devia ter estátuas por toda a parte era o senhor Miguel de Vasconcelos, o que quer dizer que o defenestrado teria sido o senhor João Pinto Ribeiro.

Aliás, este último teve, logo no momento, muitas dificuldades em convencer D. João de Bragança a colocar a coroa real. E foi uma andaluza, D. Luisa de Guzmán, pelo casamento Gusmão, que o empurrou para a aventura: mais vale ser rainha um dia do que duquesa toda a vida. Parece que a forma terá sido ligeiramente diferente, mas a substância era mesmo essa.

Donde, hoje seríamos una Región Autonomica, falando Português e confrontando-nos com o Señor Zapatero, mas tendo um rei que fala a nossa língua. Deste modo, outro galo cantaria e não apenas o de Barcelos. Sou, assim, um traidor, de acordo com o que me têm dito frequentemente. Há, porém, que tomar em conta uma circunstância. Farto de dez milhões de loucos gastadores e ingovernáveis, Madrid, a braços com problemas também quanto aos juros da dívida pública, já nos teria concedido a independência. Daí, porquê continuarmos a festejar o Primeiro de Dezembro?