terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Excepção

Mais uma vez, o presidente do Governo Regional dos Açores lançou uma pedrada para o pântano de águas turvas da política portuguesa.

Desta vez, o Governo do socialista Carlos César decidiu atribuir um subsídio compensatório aos funcionários que, auferindo vencimentos entre 1500 e 2000 euros, seriam abrangidos por cortes salariais. A decisão do Governo Regional dos Açores levantou de imediato uma vozearia de condenação, abrangendo um largo espectro político, de correligionários PS do líder açoriano, ao excêntrico Governo Regional da Madeira e às hostes do PSD acrescentadas neste caso pelo chefe de Estado.

A crítica mais viperina à decisão do Governo Regional açoriano procurava igualizá-la às numerosas excepções que o Governo da República tem vindo a instituir para pôr a "boysada" das empresas públicas e sectores da classe política a salvo da austeridade que vai deixar de rastos a sociedade portuguesa. Nada mais falso. O Governo do socialista Carlos César não pretende beneficiar quem já é de si privilegiado, por razões de sangue ou de cartão partidário. Não pretende salvaguardar os que auferem pensões e salários escandalosos, num país pelintra. Os visados na decisão do Governo Regional são trabalhadores comuns.

A classe política central, centralizadora e centralista, ficou em polvorosa. O chefe de Estado, que quando lhe falam no Governo dos Açores puxa logo pelas tábuas da lei, suscitou dúvidas sobre a constitucionalidade da decisão. O chefe do Governo invocou suposta falta de solidariedade. Mas o que verdadeiramente os incomoda é que o Governo Regional dos Açores por mais de uma vez se constituiu num perigoso exemplo para a estabilidade da paz podre. Nem tudo está bem assim e as coisas podem fazer-se de outra forma.
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«DE» de 7 Dez 10

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