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Por José António Lima
NA SUA MENSAGEM de Ano Novo, Cavaco Silva foi claro e directo no alerta que lançou aos portugueses. O Presidente da República avisou que «o endividamento» do país atinge já níveis preocupantes» e que «Portugal já tem um nível de despesa pública e de impostos que é desproporcionado face ao seu nível de desenvolvimento». A este ritmo, sublinhou Cavaco, «o nosso futuro, o futuro dos nossos filhos ficará seriamente hipotecado», até porque «quando gastamos mais do que produzimos, há sempre um momento em que alguém tem de pagar a factura».
Um retrato duro mas cristalinamente verdadeiro do atraso em que Portugal se vem deixando cair na última década. Se a este cenário sombrio acrescentarmos os problemas do desemprego, «que atingiu, no terceiro trimestre, 548 mil pessoas», e da exclusão social, percebe-se, como adverte o Presidente, que «podemos estar a caminhar para uma situação explosiva».
Cavaco omitiu, no entanto, duas questões relevantes no seu incisivo diagnóstico. A primeira é a impossibilidade de resolver verdadeiramente o problema da dívida e da despesa públicas – e da própria competitividade da economia – sem reduzir de forma efectiva a dimensão do aparelho de Estado, o peso excessivo do funcionalismo público e das clientelas políticas nas contas do país.
A segunda questão é a cultura do despesismo, de gastar acima das posses, e da prioridade ao lazer há muito instalada em largos estratos da sociedade portuguesa. Ainda agora, no final de 2009, um ano de severa crise, se viram, nos feriados e ‘pontes’ do início de Dezembro ou nas festividades de Natal e da passagem de ano, os voos esgotados para o Brasil e Caraíbas, os hotéis sem lotação para mais ocupantes na Madeira, no Algarve, nas serras Nevada, da Estrela ou de Andorra. Ao mesmo tempo, o número de Audi, BMW ou Mercedes que se vêem a circular nas ruas e acessos a Lisboa ou Porto não tem paralelo, em média relativa, com qualquer outra capital ou grande cidade europeia, seja Paris ou Roma, Londres ou Madrid.
Um povo e um Estado que se endividam ano após ano em nome do lazer e das aparências sociais continuarão a achar que alguém – que não eles – acabará por pagar a factura.
Por José António Lima
NA SUA MENSAGEM de Ano Novo, Cavaco Silva foi claro e directo no alerta que lançou aos portugueses. O Presidente da República avisou que «o endividamento» do país atinge já níveis preocupantes» e que «Portugal já tem um nível de despesa pública e de impostos que é desproporcionado face ao seu nível de desenvolvimento». A este ritmo, sublinhou Cavaco, «o nosso futuro, o futuro dos nossos filhos ficará seriamente hipotecado», até porque «quando gastamos mais do que produzimos, há sempre um momento em que alguém tem de pagar a factura».
Um retrato duro mas cristalinamente verdadeiro do atraso em que Portugal se vem deixando cair na última década. Se a este cenário sombrio acrescentarmos os problemas do desemprego, «que atingiu, no terceiro trimestre, 548 mil pessoas», e da exclusão social, percebe-se, como adverte o Presidente, que «podemos estar a caminhar para uma situação explosiva».
Cavaco omitiu, no entanto, duas questões relevantes no seu incisivo diagnóstico. A primeira é a impossibilidade de resolver verdadeiramente o problema da dívida e da despesa públicas – e da própria competitividade da economia – sem reduzir de forma efectiva a dimensão do aparelho de Estado, o peso excessivo do funcionalismo público e das clientelas políticas nas contas do país.
A segunda questão é a cultura do despesismo, de gastar acima das posses, e da prioridade ao lazer há muito instalada em largos estratos da sociedade portuguesa. Ainda agora, no final de 2009, um ano de severa crise, se viram, nos feriados e ‘pontes’ do início de Dezembro ou nas festividades de Natal e da passagem de ano, os voos esgotados para o Brasil e Caraíbas, os hotéis sem lotação para mais ocupantes na Madeira, no Algarve, nas serras Nevada, da Estrela ou de Andorra. Ao mesmo tempo, o número de Audi, BMW ou Mercedes que se vêem a circular nas ruas e acessos a Lisboa ou Porto não tem paralelo, em média relativa, com qualquer outra capital ou grande cidade europeia, seja Paris ou Roma, Londres ou Madrid.
Um povo e um Estado que se endividam ano após ano em nome do lazer e das aparências sociais continuarão a achar que alguém – que não eles – acabará por pagar a factura.
«SOL» de 8 Jan 09
1 comentário:
"Um povo e um Estado que se endividam...": e quando o Estado se endivida não é o povo que tem a obrigação de pagar? O dinheiro do Estado é o dinheiro do povo, dos contribuintes.
Logo o povo paga pelas suas acções directas e indirectas: se quer comprar casacos da moda, carros topo de gama ou ir em viagens exóticas, paga directamente pelas suas acções; se votou nos últimos anos em Governos (quando votou poderiam ainda ser apenas candidatos e não governantes) que teimam em gastar o dinheiro público em obras desnecessárias, em compadrios diversos, em investimentos improdutivos, etc, então o povo pagará pelas suas acções indirectamente.
E os governantes? Ah, esses continuam a desgovernar e a ver os outros pagar.
De quem é a culpa: tanto dos eleitos como dos eleitores. Ciclo vicioso que urge romper!
Cumprimentos.
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