terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Dividir

.
Por João Paulo Guerra

Um PS dividido perante uma candidatura à Presidência da República é já a rotina nas corridas a Belém.

O CASO MAIS EMBLEMÁTICO será o da eleição de Ramalho Eanes contra Soares Carneiro, em que o partido se repartiu entre o Secretariado e os outros. Mas parte do PS também tentou roer a corda na eleição de Jorge Sampaio contra Cavaco Silva, ou pelo menos na apresentação da candidatura.

Porém, o caso mais conseguido é ainda o da eleição de Cavaco Silva contra a dupla Manuel Alegre e Mário Soares. Aí não se tratou de os socialistas se dividirem mas de serem divididos. O PS estimulou um candidato, depois lançou e apoiou outro. E só assim uma maioria de esquerda de cerca de 60 por cento, alcançada nas legislativas de 2005 - o PS com maioria absoluta e toda a esquerda a subir -, se desbaratou nas presidenciais de 2006, dando a vitória ao candidato que erguia a bandeira da "cooperação estratégica" com o governo socialista. Mas nem mesmo por o governo ter muito pouco de socialista a "cooperação estratégica" deixou de ir por água abaixo.

Agora, Manuel Alegre voltou a manifestar-se disponível para fazer da próxima eleição presidencial uma grande mobilização, não só das esquerdas. Sabe-se que nem andando a procurar com uma candeia se encontrará um outro candidato da área socialista capaz de mobilizar as esquerdas e não só. Mas lá saltaram de imediato os arautos da "divisão" que, passando a vida a atrelar o PS à direita, tremem dos pés à cabeça perante a possibilidade de uma vitória eleitoral de esquerda que, para além da actuação do eleito, se desfaz no próprio momento da eleição.

O voto é secreto. Mas há por aí muita gente que gostaria de ser mosca para ver quantos Pê Esses, perante a dupla Alegre / Soares, terão votado Cavaco.

«DE» de 19 Jan 09