quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Futuro

Por João Paulo Guerra

Nos últimos dez anos, desceu de 60 para 46 por cento a percentagem de jovens com contrato de trabalho permanente, ao mesmo tempo que subiu de 30 para 47 por cento a percentagem de jovens com contrato de trabalho a prazo.

MAS ISTO É O QUE DIZ RESPEITO
aos jovens com trabalho. Porque na última década, foram liquidados em Portugal 175 mil empregos com contratos sem termo e nove mil postos de trabalho a prazo ocupados por jovens. Entretanto cresceu de 5 para 12 por cento a percentagem de jovens desempregados licenciados. Os números são do Eurostat.

Por isto ou por aquilo, com crise financeira, recessão ou com o que se lhe queira chamar, os jovens têm sido os mais penalizados pelas consequências da delinquência financeira. "Não se pode legalmente tratar assim o dinheiro", escreveu o escritor inglês Martin Amis, pondo as palavras na boca de uma personagem do romance dos anos 80 "Money. A Suicide Note" que se interrogava: "Quanto tempo vai durar isto tudo?". Durou o tempo suficiente para que aquela geração de yuppies rebentasse de fartura e de excessos e para que no início do século XXI o horizonte que se depara à juventude seja o de uma geração perdida.

Com frequência se ouve dizer que seja qual for o desfecho da crise actual nada ficará como antes. Não é bem assim. Do que não ficará pedra sobre pedra é do regime de direitos sociais universalmente consagrados. O pior da economia dos anos 80, a imensa bolsa de desemprego, a precariedade, o trabalho sem direitos e os baixos salários de pegar ou largar, vão alastrar incomensuravelmente as suas fronteiras. Em matéria de exploração tudo ficará igual ao que era, com tendência para pior. A menos que a geração perdida, perdido o presente, meta ombros a conquistar um futuro.
«DE» de 13 Jan 10