Afinal, o político português que raramente tinha dúvidas e nunca se enganava, enganou-se.
OU SE ENGANOU em 27 de Novembro de 2004, quando escreveu no jornal Expresso: "cabe às elites profissionais contribuírem para afastar da vida partidária portuguesa a sugestão da lei de Gresham, isto é, contribuírem para que os políticos competentes possam afastar os incompetentes." Ou se enganou agora ao atribuir ao visado no seu artigo de há cinco anos a Grã-Cruz da Ordem de Cristo por "destacados serviços prestados ao País". Certo é que Sir Thomas Gresham mais uma vez viu confirmada a sua lei de triunfo da "má moeda".
O resultado funciona pessimamente do ponto de vista didáctico. Contribuiu para fundamentar os que ligeiramente criticam a democracia e a política em geral por - segundo dizem - os políticos mudarem de opinião ao sabor das mais recônditas conveniências, sem palavra, sem rigor, sem princípios. Ou seja, hoje dizem uma coisa e amanhã dizem outra, vá lá alguém confiar na palavra de um político.
Porque não há razões de tradição ou protocolo que cheguem para explicar que um político, que em 2004 contribuiu decisivamente para demolir um governo e o respectivo líder, cinco anos depois considere que a "má moeda" prestou um "destacado serviço ao País". As comendas do Estado não são encomendas, de atribuição automática a quem passou por um cargo público, independentemente do modo e com os resultados que o exerceu. E a Ordem de Cristo, criada por João XXI e ratificada por D. Dinis, não é uma medalha de presença numa competição, que tanto se pendura ao pescoço do vencedor como dos desclassificados.
E que diria a tudo isto D. Dinis? Pois, esse mesmo, o que escreveu letras para umas cançonetas acompanhadas ao violino!