sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Aventuras Natalícias

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Por Maria Filomena Mónica

DESDE QUE A MINHA MÃE MORREU, recebo, na Consoada, a família, isto é, os meus dois filhos e três netos. Uma vez que os meus talentos culinários se reduzem a estrelar um ovo - devido à conotação do termo, considero que deveria ser este, e não o bacalhau, o prato da época – encomendo o jantar fora. Suponho que me sentir culpada, tento concentrar-me na decoração, colocando na mesa uma toalha bordada e montando uma árvore com bolas de lamé.

Tendo herdado um Menino Jesus, no ano passado decidi acrescentá-lo à festa. Lembrei-me dele a meio das férias que este Outono passei na Andaluzia. A 22 de Outubro, fui visitar a Igreja de Salvador, em Sevilha. Quando cheguei, foi-me dito que teria de esperar uma hora, pois o rei iria comemorar, ao meio-dia, o fim do restauro do templo. Depois de ele ter saído, pude admirar as sumptuosas imagens que povoam esta igreja. Ainda sob a influência do ambiente que ali se respirava, fui até à calle Francos, onde pululam lojas de artigos religiosos que em nada se parecem com os decrépitos estabelecimentos que, a custo, sobrevivem em Lisboa. Aquelas estão cheias de pessoas, algumas, como verifiquei, a comprar já tecidos para fabricar as indumentárias para a Semana Santa. Foi numa delas, a Cordoneria Alba, que reparei num vestidinho que considerei ficar a matar no meu Menino Jesus. Comprei-o imediatamente.

Só quando, em Lisboa, Lhe peguei ao colo, verifiquei que o escultor já havia pintado, na parte superior do corpo, uma camisinha com estrelas e, na parte inferior, uns calçõezinhos doirados. Como explicar o facto de eu ter esquecido que Ele se encontrava vestido? Estava desanimada, quando abri a janela das traseiras. No jardim que, durante anos, considerara meu, e que agora pertence ao dinamarquês do 5º andar, o velho caramanchão encontrava-se coberto de luzinhas. A conclusão é obvia: só os escandinavos sabem como festejar o Natal a preceito. Obrigado, William.

Dezembro 2008