quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Biombos

Por João Paulo Guerra

O PSD CONSIDERA que o desafio de uma parte do PS para que a oposição apresente uma moção de censura ao Governo constitui um verdadeiro biombo.

Mas a verdade é que a declaração do PSD consubstancia por seu lado um autêntico tabique. E é assim, por detrás de anteparos e guarda-ventos, que se faz política em Portugal: longe das vistas dos cidadãos, às escondidas. Aliás, o repto do PS para que a oposição censure o Governo será posterior à declaração do PSD sobre a irresponsabilidade de mudar de Governo em plena crise. Ou seja, quando o PS avançou com o biombo, já o PSD tinha mandado instalar o tabique.

O partido do Governo tem passado todos estes meses da legislatura a dramatizar as ameaças de demissão e de eleições antecipadas, porque sabe que o PSD tem ainda mais medo de eleições que o próprio PS. Tivesse o PS confiança na vitória com maioria absoluta, ou tivesse o PSD uma liderança que lhe desse confiança no triunfo eleitoral, e ninguém andava a lançar ameaças sobre o assunto: na altura devida, quem quer que fosse armava e lançava a "bomba atómica" e pronto. Mas a política portuguesa, de tão dissimulada, sonsa e paliativa, fez da "bomba atómica" uma simples pistola de fulminantes: é mais o susto que outra coisa. Nas palavras, raios e coriscos; nos actos, pólvora seca e flor-de-enxofre.

E compreende-se que assim seja. O que separa os partidos da alternância, mais o contra-peso "centrista", não são propriamente grandes opções políticas, nem sequer grandes escrúpulos éticos, mas simples questões de poder e protagonismo. Quem decide, quem faz, com que fins, em que calendário, em proveito de que clientelas. São, digamos assim, as diferenças entre biombos e tabiques, cortinados e bambinelas, tapumes e taipais.

«DE» de 17 Fev 10