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Por José António Lima
O ANUNCIADO fim próximo do desacreditado poder de José Sócrates veio animar a corrida à liderança do PSD. Paulo Rangel e Aguiar-Branco aí estão para disputar votos com Passos Coelho. Este assumiu há muito a sua candidatura, tem o apoio maioritário do aparelho do PSD (ainda que o voto dos militantes em directas esteja menos sujeito a caciques do que se pensa) e até escreveu um livro, com o título Mudar, que pretende ser o seu programa político. O esforço literário de Passos Coelho é louvável, mas o esforço político é frustrante. São 269 páginas de generalidades e banalidades, de ideias pela rama sobre Justiça, Educação, Energia, Regionalização ou reforma do Sistema Político. Em que o pensamento do autor fica sempre a meio da ponte, indefinido, admitindo quase tudo e o seu contrário. Uma decepção.
O melhor do livro, no entanto, está guardado para o fim. As três páginas finais são dedicadas ao ‘Doutor Chu’, Stephen Chu, prémio Nobel da Física e secretário da Energia da Administração Obama. Que se propunha aumentar os impostos e taxas sobre os combustíveis para reduzir o consumo excessivo de gasolina dos americanos. E que, chegado ao Governo, perante a impossibilidade de pôr em prática tal promessa, desistiu da ideia com uma frase que impressionou vivamente Passos Coelho: «Neste momento, deixem-me ser franco, isso não é politicamente realizável».
O candidato a líder do PSD adoptou tal frase, que repete, como seu lema político e sublinha mesmo, a concluir, que «em nenhum momento deste livro me saiu da cabeça a consciência das dificuldades como as que enfrentou o respeitável Doutor Chu». Não é fácil decidir o que mais admirar. Se a espantosa ingenuidade política do respeitável Doutor Chu. Se a assombrosa franqueza do seu não menos respeitável pupilo português, Passos Coelho.
Se Sócrates começou logo, mal formou Governo, a fazer o contrário do que prometera, subindo os impostos, Passos Coelho avisa desde já que as suas propostas e promessas são extremamente condicionais e politicamente voláteis. Não são para levar muito a sério, como diria o respeitável Doutor Chu.
«SOL» de 12 Fev 10
Por José António Lima
O ANUNCIADO fim próximo do desacreditado poder de José Sócrates veio animar a corrida à liderança do PSD. Paulo Rangel e Aguiar-Branco aí estão para disputar votos com Passos Coelho. Este assumiu há muito a sua candidatura, tem o apoio maioritário do aparelho do PSD (ainda que o voto dos militantes em directas esteja menos sujeito a caciques do que se pensa) e até escreveu um livro, com o título Mudar, que pretende ser o seu programa político. O esforço literário de Passos Coelho é louvável, mas o esforço político é frustrante. São 269 páginas de generalidades e banalidades, de ideias pela rama sobre Justiça, Educação, Energia, Regionalização ou reforma do Sistema Político. Em que o pensamento do autor fica sempre a meio da ponte, indefinido, admitindo quase tudo e o seu contrário. Uma decepção.
O melhor do livro, no entanto, está guardado para o fim. As três páginas finais são dedicadas ao ‘Doutor Chu’, Stephen Chu, prémio Nobel da Física e secretário da Energia da Administração Obama. Que se propunha aumentar os impostos e taxas sobre os combustíveis para reduzir o consumo excessivo de gasolina dos americanos. E que, chegado ao Governo, perante a impossibilidade de pôr em prática tal promessa, desistiu da ideia com uma frase que impressionou vivamente Passos Coelho: «Neste momento, deixem-me ser franco, isso não é politicamente realizável».
O candidato a líder do PSD adoptou tal frase, que repete, como seu lema político e sublinha mesmo, a concluir, que «em nenhum momento deste livro me saiu da cabeça a consciência das dificuldades como as que enfrentou o respeitável Doutor Chu». Não é fácil decidir o que mais admirar. Se a espantosa ingenuidade política do respeitável Doutor Chu. Se a assombrosa franqueza do seu não menos respeitável pupilo português, Passos Coelho.
Se Sócrates começou logo, mal formou Governo, a fazer o contrário do que prometera, subindo os impostos, Passos Coelho avisa desde já que as suas propostas e promessas são extremamente condicionais e politicamente voláteis. Não são para levar muito a sério, como diria o respeitável Doutor Chu.
«SOL» de 12 Fev 10