sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Justiça

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Por João Paulo Guerra

O PAÍS ESTÁ mergulhado em diversas ordens de crises. Uma crise política que ameaça de perto e descredibiliza o funcionamento das instituições.

Uma crise financeira, com componentes internacionais, muito agravada por um endividamento à beira do abismo e distorções crónicas dos sistemas de acumulação e distribuição da riqueza. Uma crise social com o desemprego e a desigualdade fora de controlo. Uma crise de valores, com o consumismo a bater todos os recordes em cima da nacional-pelintrice, o egoísmo a sobrepor-se a todos os comportamentos e mentalidades, um absoluto desprezo pela cultura e pelos valores do espírito humano. E crises parcelares crónicas em todos os ramos do funcionamento do Estado e da sociedade, na Educação, na Saúde, na Justiça.

Mas enquanto o país real quase que agoniza, em Matosinhos, num casulo de cristal, um colectivo de três juízes debruça-se profunda e doutamente sobre uma magna questão: que pena aplicar a um jovem que furtou num supermercado uma embalagem de amêndoas? O caso começou a ser julgado com dois arguidos e uma acusação que envolvia, para além do pacote de amêndoas, uma garrafa de uísque. Mas um dos arguidos e a garrafa caíram nas audiências de julgamento, restando um arguido, um pacote de amêndoas e um colectivo de três juízes. O que seria cómico se não fosse dramático. E o pior é que cada instância da Justiça terá para contar um caso caricato como o presente.

A máquina da administração da Justiça tem na respectiva secretaria de Estado, desde a formação do actual Governo, um dos mais experientes, conhecedores, dedicados e competentes causídicos do país, com a função específica de coordenar a correcção de leis penais refeitas há dois anos em cima do joelho. Senhor doutor: defenda o país e o povo da Justiça.

«DE» de 19 Fev 10

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