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Por Nuno Crato
SOU UM “TECKIE” — um apaixonado pela tecnologia. Sempre fui. Aderi ao correio electrónico em 1988 e fiz a minha primeira página Web em 1992. Tenho um iPhone. E só não sei se vou comprar um iPad porque tenho já um Kindle. Fico contente sempre que a tecnologia me facilita a vida e tento que as minhas aulas lucrem com a introdução de novas técnicas.
Não sou o único, claro. O meu colega Harm-Jan Steenhuis, um holandês que agora lecciona numa universidade do Estado de Washington, é um dos muitos que gostam também de experimentar as novas tecnologias. Na passada semana, ele alcançou uma súbita e inesperada notoriedade. As suas experiências educativas apareceram difundidas por várias agências de noticiário científico e académico. A imprensa especializada reproduziu-as e a Harm-Jan começou a receber telefonemas de jornalistas. Tudo isso porque escreveu sobre as suas iniciativas recentes de introdução da tecnologia no ensino.
O artigo que publicou relata uma experiência de introdução de testes electrónicos e apareceu no International Journal of Operations Management Education (3–2, pp. 119–148). Harm-Jan e os seus colegas resolveram fazer semanalmente online curtos testes (“quizzes”), para revisão frequente da matéria e avaliação dos alunos. Fazer testes curtos e frequentes é uma técnica antiga — pretende-se que os estudantes vão acompanhando a matéria e percebam onde estão a falhar. A inovação consiste em automatizar esses testes, de forma a que os alunos possam obter imediatamente a correcção das respostas e a sua classificação.
Pouco tempo antes, Harm-Jan tinha experimentado outra técnica, a dos “clickers”, que são pequenos aparelhos individuais onde cada aluno aperta um botão para responder a uma pergunta. São usados em alguns grandes anfiteatros de universidades dos Estados Unidos. A meio da aula, o professor faz uma pergunta. Cada aluno aperta um botão do seu aparelho individual para responder. As respostas são transmitidas electricamente ou por via rádio a um computador que as interpreta. Instantaneamente, o professor fica a saber os alunos que responderam correctamente à pergunta e os que se enganaram. Pode usar os resultados para os classificar ou para perceber se está a ser seguido e onde estão as dificuldades dos alunos.
Harm-Jan Steenhuis e os seus colegas tiveram um grande sucesso com estas técnicas. Os estudantes aderiram, e parece que estavam mais activos nas aulas. No entanto, quando resolveram avaliar os resultados no que realmente interessa, que é a aprendizagem, verificaram que os alunos não tinham aprendido mais. Ficaram surpresos, pois conheciam muitos artigos publicados em revistas de educação que apregoavam bons resultados com as novas tecnologias — falavam da promoção de uma “aprendizagem activa”, de um “maior envolvimento dos estudantes no processo de aprendizagem”. Foram ver esses artigos e ficaram mais surpreendidos ainda. Os tais “bons resultados” referiam-se apenas ao entusiasmo dos alunos. Não a uma melhoria da sua aprendizagem.
Harm-Jan disse-me, cauteloso, “nem me passa pela cabeça criticar as novas tecnologias”. Respondi-lhe que não precisava de mo dizer. Sou bem capaz de ir comprar um iPad, um iPude e instrumentos de todas as letras do alfabeto, mas não vou pretender que os meus alunos vão aprender mais só por causa disso.
Por Nuno Crato
SOU UM “TECKIE” — um apaixonado pela tecnologia. Sempre fui. Aderi ao correio electrónico em 1988 e fiz a minha primeira página Web em 1992. Tenho um iPhone. E só não sei se vou comprar um iPad porque tenho já um Kindle. Fico contente sempre que a tecnologia me facilita a vida e tento que as minhas aulas lucrem com a introdução de novas técnicas.
Não sou o único, claro. O meu colega Harm-Jan Steenhuis, um holandês que agora lecciona numa universidade do Estado de Washington, é um dos muitos que gostam também de experimentar as novas tecnologias. Na passada semana, ele alcançou uma súbita e inesperada notoriedade. As suas experiências educativas apareceram difundidas por várias agências de noticiário científico e académico. A imprensa especializada reproduziu-as e a Harm-Jan começou a receber telefonemas de jornalistas. Tudo isso porque escreveu sobre as suas iniciativas recentes de introdução da tecnologia no ensino.
O artigo que publicou relata uma experiência de introdução de testes electrónicos e apareceu no International Journal of Operations Management Education (3–2, pp. 119–148). Harm-Jan e os seus colegas resolveram fazer semanalmente online curtos testes (“quizzes”), para revisão frequente da matéria e avaliação dos alunos. Fazer testes curtos e frequentes é uma técnica antiga — pretende-se que os estudantes vão acompanhando a matéria e percebam onde estão a falhar. A inovação consiste em automatizar esses testes, de forma a que os alunos possam obter imediatamente a correcção das respostas e a sua classificação.
Pouco tempo antes, Harm-Jan tinha experimentado outra técnica, a dos “clickers”, que são pequenos aparelhos individuais onde cada aluno aperta um botão para responder a uma pergunta. São usados em alguns grandes anfiteatros de universidades dos Estados Unidos. A meio da aula, o professor faz uma pergunta. Cada aluno aperta um botão do seu aparelho individual para responder. As respostas são transmitidas electricamente ou por via rádio a um computador que as interpreta. Instantaneamente, o professor fica a saber os alunos que responderam correctamente à pergunta e os que se enganaram. Pode usar os resultados para os classificar ou para perceber se está a ser seguido e onde estão as dificuldades dos alunos.
Harm-Jan Steenhuis e os seus colegas tiveram um grande sucesso com estas técnicas. Os estudantes aderiram, e parece que estavam mais activos nas aulas. No entanto, quando resolveram avaliar os resultados no que realmente interessa, que é a aprendizagem, verificaram que os alunos não tinham aprendido mais. Ficaram surpresos, pois conheciam muitos artigos publicados em revistas de educação que apregoavam bons resultados com as novas tecnologias — falavam da promoção de uma “aprendizagem activa”, de um “maior envolvimento dos estudantes no processo de aprendizagem”. Foram ver esses artigos e ficaram mais surpreendidos ainda. Os tais “bons resultados” referiam-se apenas ao entusiasmo dos alunos. Não a uma melhoria da sua aprendizagem.
Harm-Jan disse-me, cauteloso, “nem me passa pela cabeça criticar as novas tecnologias”. Respondi-lhe que não precisava de mo dizer. Sou bem capaz de ir comprar um iPad, um iPude e instrumentos de todas as letras do alfabeto, mas não vou pretender que os meus alunos vão aprender mais só por causa disso.
«Expresso - «Passeio Aleatório» de 30 Jan 10
NOTA: acerca dos student clickers, ver, por exemplo, [aqui]