Por João Duque
ENTÃO, isto são maneiras, António? (*) Chega-se aqui, pé ante pé, sem mais, e já não se fala aos amigos, homem? Mesmo duques têm coração! Ora venha de lá um abraço!
Sabe que esta de "entrar de mansinho" sem querer dar nas vistas fez-me lembrar a dos gregos que, sub-repticiamente, aumentaram a dívida sem que se desse por ela!
Já em Julho de 2003 uma revista da especialidade dava conta de que a Goldman Sachs havia proposto ao Governo grego umas operações financeiras que lhe permitiriam aliviar o pesado saldo da dívida emitida, e assim facilitar a adesão ao euro.
A Grécia tinha iniciado um programa de emissão de dívida em dólares e ienes. Mas como os impostos são cobrados em euros, o melhor seria converter estas dívidas para ficar a dever e a pagar juros em euros.
Tudo isto era tecnicamente certo, desde que os valores trocados entre as partes fossem os justos. Porém, ao que parece, a Goldman Sachs terá passado para os gregos mais 1000 milhões de euros do que deveria, com a garantia de que estes lhe devolveriam o capital (e juros, naturalmente) ao longo dos anos futuros. Todo este financiamento teria então sido feito sem que as autoridades europeias tivessem notado, ou os nacionais se apercebessem.
Na prática, o Governo grego aumentou a dívida total, mas se usou o empréstimo adicional para reduzir a dívida explícita, terá feito um verdadeiro "milagre"!
Para memória, deve acrescentar-se que, ao que parece, toda esta operação (através de um designado cross-currency swap) foi feita de modo bastante generoso para o intermediário...
O curioso é que esta operação foi do conhecimento público, não querendo as autoridades europeias preocupar-se com ela e tendo até sido realizada dentro da legalidade contabilística europeia.
Com as normas de reporte de contabilidade pública, muitas destas operações feitas fora de mercado deixavam os Estados e os seus súbditos completamente fora das jogadas...
Querem mais? O Eurostat até dava a receita! Na suas guidelines contabilísticas ensinava como se fazia: um Estado emitia dívida em euros. Depois convertia-a em dólares usando um destes swaps com uma taxa de câmbio fora de mercado.
A seguir avaliava a dívida a uma taxa de mercado e já estava! Desaparecia parte da dívida! Magia?
Não! Alguém estava a financiar a diferença que, obviamente, não aparecia, mas que persistia. Nada se criava, nem se destruía. Apenas se transformava...
A partir de Março de 2008, as regras mudaram e o reporting exige uma atitude diferente. Mas agora é que se descobre...
Claro que o Estado português não tem, aparentemente, este tipo de swaps. Mas tem outros.
Que saiba, em Dezembro de 2008 os swaps de taxa de juro em que o Estado português era contraparte já ascendia a 42 mil milhões de euros, um terço da dívida pública, e muitas comissões de intermediação.
«Expresso» de 20 de Fevereiro de 2010
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(*) NOTA (CMR): Julgo que o António a que João Duque se refere é António Almeida, que publicou uma crónica mesmo ao lado da dele - na mesma página do «Expresso-Economia»
ENTÃO, isto são maneiras, António? (*) Chega-se aqui, pé ante pé, sem mais, e já não se fala aos amigos, homem? Mesmo duques têm coração! Ora venha de lá um abraço!
Sabe que esta de "entrar de mansinho" sem querer dar nas vistas fez-me lembrar a dos gregos que, sub-repticiamente, aumentaram a dívida sem que se desse por ela!
Já em Julho de 2003 uma revista da especialidade dava conta de que a Goldman Sachs havia proposto ao Governo grego umas operações financeiras que lhe permitiriam aliviar o pesado saldo da dívida emitida, e assim facilitar a adesão ao euro.
A Grécia tinha iniciado um programa de emissão de dívida em dólares e ienes. Mas como os impostos são cobrados em euros, o melhor seria converter estas dívidas para ficar a dever e a pagar juros em euros.
Tudo isto era tecnicamente certo, desde que os valores trocados entre as partes fossem os justos. Porém, ao que parece, a Goldman Sachs terá passado para os gregos mais 1000 milhões de euros do que deveria, com a garantia de que estes lhe devolveriam o capital (e juros, naturalmente) ao longo dos anos futuros. Todo este financiamento teria então sido feito sem que as autoridades europeias tivessem notado, ou os nacionais se apercebessem.
Na prática, o Governo grego aumentou a dívida total, mas se usou o empréstimo adicional para reduzir a dívida explícita, terá feito um verdadeiro "milagre"!
Para memória, deve acrescentar-se que, ao que parece, toda esta operação (através de um designado cross-currency swap) foi feita de modo bastante generoso para o intermediário...
O curioso é que esta operação foi do conhecimento público, não querendo as autoridades europeias preocupar-se com ela e tendo até sido realizada dentro da legalidade contabilística europeia.
Com as normas de reporte de contabilidade pública, muitas destas operações feitas fora de mercado deixavam os Estados e os seus súbditos completamente fora das jogadas...
Querem mais? O Eurostat até dava a receita! Na suas guidelines contabilísticas ensinava como se fazia: um Estado emitia dívida em euros. Depois convertia-a em dólares usando um destes swaps com uma taxa de câmbio fora de mercado.
A seguir avaliava a dívida a uma taxa de mercado e já estava! Desaparecia parte da dívida! Magia?
Não! Alguém estava a financiar a diferença que, obviamente, não aparecia, mas que persistia. Nada se criava, nem se destruía. Apenas se transformava...
A partir de Março de 2008, as regras mudaram e o reporting exige uma atitude diferente. Mas agora é que se descobre...
Claro que o Estado português não tem, aparentemente, este tipo de swaps. Mas tem outros.
Que saiba, em Dezembro de 2008 os swaps de taxa de juro em que o Estado português era contraparte já ascendia a 42 mil milhões de euros, um terço da dívida pública, e muitas comissões de intermediação.
«Expresso» de 20 de Fevereiro de 2010
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(*) NOTA (CMR): Julgo que o António a que João Duque se refere é António Almeida, que publicou uma crónica mesmo ao lado da dele - na mesma página do «Expresso-Economia»