Por Baptista-Bastos
ESTAMOS A PERDER a perspectiva e o sentido das coisas. Vivemos, dificultosamente, uns com os outros, e olhamo-nos com agressiva desconfiança. As mais altas instituições mentem-nos, omitem, afirmam uma certeza e logo a desdizem; os representantes da justiça fornecem-nos a cavernosa ideia de uma identidade truncada, e abandonaram o conceito de mediadores da consciência social; o jornalismo, que devia ser, e já foi, uma referência em forma de caução, é a miséria que por aí se vê. Mais cedo do que tarde terá de proceder a um mea culpa; mas nem assim arredará as gravíssimas responsabilidades que lhe cabem no desrespeito geral.
Viver em conjunto precisa de conflito, de polémica, de emoção. E da construção de um elo plural, com valores que desenvolvam o sentimento de pertença e de diferença. Todos estes padrões têm sido desprezados, com proficiência, por políticos manifestamente de segunda ordem e por jornalistas de adiantada mediocridade, agigantado ego e gramática fugaz.
O escabroso espectáculo no Parlamento, fornecido por Mário Crespo, José Manuel Fernandes e Felícia Cabrita, tidos como apreciáveis jornalistas (enfim: a estimativa não é generalizada, bem pelo contrário) desacreditou, ainda mais, o já azarento ambiente em que vive a Imprensa. Todos eles atingiram o grau mais elevado do grotesco, ao mesmo tempo que demonstraram quão frágeis e esburacados foram os seus argumentos. Afinal, existe mesmo liberdade de expressão e de informação, e esta sofre as mesmas ameaças e perigos existentes nas sociedades modernas. A vitimização pode ser sedutora, mas resulta sempre numa transparência que os factos tornam obrigatória.
A presença dos três sujeitos chegou a ser aflitiva por declaradamente arrogante, e apenas revelou o verdete que alimentam por José Sócrates. É pouco. É nada. O ódio não se confessa, mas nota-se, e marca o desejo inconsciente de destruir do outro. Haja Freud!
Não sei se a sociedade portuguesa dispõe, imediatamente, de forças capazes de remover o lamaçal em que foi submergindo. A alternância entre uma vida assente na desistência, e uma vida liberta de imposições, depende da necessidade e do anseio de construirmos novos laços sociais. Os exemplos que vêm de cima não são de molde a criar adeptos. Não confiamos em quase nada e em quase ninguém. Começamos a desconfiar de nós próprios. O indivíduo tem de ter em conta o olhar dos outros, mesmo que negativo: é o que assegura a nossa singularidade. E mesmo isso está a diluir-se, ante a configuração permanente da mentira política, o desprezo pela verdade e a duvidosa dimensão ética de certos jornalistas
«DN» de 24 Fev 10
ESTAMOS A PERDER a perspectiva e o sentido das coisas. Vivemos, dificultosamente, uns com os outros, e olhamo-nos com agressiva desconfiança. As mais altas instituições mentem-nos, omitem, afirmam uma certeza e logo a desdizem; os representantes da justiça fornecem-nos a cavernosa ideia de uma identidade truncada, e abandonaram o conceito de mediadores da consciência social; o jornalismo, que devia ser, e já foi, uma referência em forma de caução, é a miséria que por aí se vê. Mais cedo do que tarde terá de proceder a um mea culpa; mas nem assim arredará as gravíssimas responsabilidades que lhe cabem no desrespeito geral.
Viver em conjunto precisa de conflito, de polémica, de emoção. E da construção de um elo plural, com valores que desenvolvam o sentimento de pertença e de diferença. Todos estes padrões têm sido desprezados, com proficiência, por políticos manifestamente de segunda ordem e por jornalistas de adiantada mediocridade, agigantado ego e gramática fugaz.
O escabroso espectáculo no Parlamento, fornecido por Mário Crespo, José Manuel Fernandes e Felícia Cabrita, tidos como apreciáveis jornalistas (enfim: a estimativa não é generalizada, bem pelo contrário) desacreditou, ainda mais, o já azarento ambiente em que vive a Imprensa. Todos eles atingiram o grau mais elevado do grotesco, ao mesmo tempo que demonstraram quão frágeis e esburacados foram os seus argumentos. Afinal, existe mesmo liberdade de expressão e de informação, e esta sofre as mesmas ameaças e perigos existentes nas sociedades modernas. A vitimização pode ser sedutora, mas resulta sempre numa transparência que os factos tornam obrigatória.
A presença dos três sujeitos chegou a ser aflitiva por declaradamente arrogante, e apenas revelou o verdete que alimentam por José Sócrates. É pouco. É nada. O ódio não se confessa, mas nota-se, e marca o desejo inconsciente de destruir do outro. Haja Freud!
Não sei se a sociedade portuguesa dispõe, imediatamente, de forças capazes de remover o lamaçal em que foi submergindo. A alternância entre uma vida assente na desistência, e uma vida liberta de imposições, depende da necessidade e do anseio de construirmos novos laços sociais. Os exemplos que vêm de cima não são de molde a criar adeptos. Não confiamos em quase nada e em quase ninguém. Começamos a desconfiar de nós próprios. O indivíduo tem de ter em conta o olhar dos outros, mesmo que negativo: é o que assegura a nossa singularidade. E mesmo isso está a diluir-se, ante a configuração permanente da mentira política, o desprezo pela verdade e a duvidosa dimensão ética de certos jornalistas
«DN» de 24 Fev 10