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Por Baptista-Bastos
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COM A GRAVIDADE que rodeia as terríveis acusações, o dr. Strecht Monteiro, militante socialista e ex-deputado, declarou, há dias, arquejante de indignação, que "há trânsfugas de Direita infiltrados no PS." Estremeceram os que o ouviram. Havia leves suspeitas, sussurros remotos, boatos inquietantes sobre o assunto. Embora parecesse pueril, o zunzum carecia de refutação. Mas o dr. Strecht limitou-se a repetir o que se escuta, sem omissões ou rasuras, mas, também, sem revelar nomes.
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"Não serão alguns traidores de Direita que querem levar o PS para a Direita? Será que há um movimento orientado, uma estratégia organizada por alguém?", perguntou, num raciocínio aterrador. "Pois, não sei", respondeu a si próprio.
"Não serão alguns traidores de Direita que querem levar o PS para a Direita? Será que há um movimento orientado, uma estratégia organizada por alguém?", perguntou, num raciocínio aterrador. "Pois, não sei", respondeu a si próprio.
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Olharam-se, uns aos outros, espavoridos de suspeita, os que escutavam a objurgatória do dr. Strecht. Qual daqueles seria infiltrado? A pureza ideológica, o método de pensamento, as companhias com que este e aquele andavam, que livros liam, se é que liam, quantas vezes faltavam às magnas reuniões dos núcleos, se pagavam ou não as quotas - eis o varejo a que todos procederam, sem nunca deixar de examinar, cuidadosamente, o camarada do lado e mesmo o outro.
Olharam-se, uns aos outros, espavoridos de suspeita, os que escutavam a objurgatória do dr. Strecht. Qual daqueles seria infiltrado? A pureza ideológica, o método de pensamento, as companhias com que este e aquele andavam, que livros liam, se é que liam, quantas vezes faltavam às magnas reuniões dos núcleos, se pagavam ou não as quotas - eis o varejo a que todos procederam, sem nunca deixar de examinar, cuidadosamente, o camarada do lado e mesmo o outro.
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A atmosfera ficou mais densa e tornou-se quase irrespirável quando o dr. Strecht, incansável, sublinhou: "Se o PS deixar de ser poder, quero ver onde pararão os trânsfugas de Direita que estão infiltrados no PS." Houve um longo momento de silêncio. Respirações opressas, olhares de soslaio, inquietação contida para não dar muito nas vistas. Alguém, acaso para amenizar, recitou, baixinho, o poeta: "Entre os portugueses traidores houve às vezes." Ninguém ficou descansado, porque, na verdade, não se tinha em conta os factos. Todavia, o dr. Strecht suavizou a acusação: "Revejo-me no PS e lutarei para que se pugne pela sua matriz ideológica. Quem está mal é que tem de sair."
A atmosfera ficou mais densa e tornou-se quase irrespirável quando o dr. Strecht, incansável, sublinhou: "Se o PS deixar de ser poder, quero ver onde pararão os trânsfugas de Direita que estão infiltrados no PS." Houve um longo momento de silêncio. Respirações opressas, olhares de soslaio, inquietação contida para não dar muito nas vistas. Alguém, acaso para amenizar, recitou, baixinho, o poeta: "Entre os portugueses traidores houve às vezes." Ninguém ficou descansado, porque, na verdade, não se tinha em conta os factos. Todavia, o dr. Strecht suavizou a acusação: "Revejo-me no PS e lutarei para que se pugne pela sua matriz ideológica. Quem está mal é que tem de sair."
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O orador, vereador sem pelouro na Câmara de Santa Maria da Feira, e, ao que me dizem, homem de bem e socialista impoluto, fez estas afirmações num debate sobre "Crise e Serviços Públicos" promovido pelo Bloco de Esquerda. Nada de mal. As pessoas devem reflectir e agir na sua própria história, e não será ignorando as derivas do PS que se conquistará a moral de que os socialistas parecem necessitar.
O orador, vereador sem pelouro na Câmara de Santa Maria da Feira, e, ao que me dizem, homem de bem e socialista impoluto, fez estas afirmações num debate sobre "Crise e Serviços Públicos" promovido pelo Bloco de Esquerda. Nada de mal. As pessoas devem reflectir e agir na sua própria história, e não será ignorando as derivas do PS que se conquistará a moral de que os socialistas parecem necessitar.
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A teoria dos "infiltrados" não é nova. António Guterres foi disso acusado. Contava-se uma história, logo a seguir a Abril, na qual os protagonistas eram Marcelo Rebelo de Sousa, Adelino Amaro da Costa e o próprio Guterres, católicos com o mesmo confessor. O primeiro disse: "Vou para o PPD." O segundo: "Vou fundar o CDS." e Guterres: "Que maçada! Lá terei de ir para o PS."
A teoria dos "infiltrados" não é nova. António Guterres foi disso acusado. Contava-se uma história, logo a seguir a Abril, na qual os protagonistas eram Marcelo Rebelo de Sousa, Adelino Amaro da Costa e o próprio Guterres, católicos com o mesmo confessor. O primeiro disse: "Vou para o PPD." O segundo: "Vou fundar o CDS." e Guterres: "Que maçada! Lá terei de ir para o PS."
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Mas é claro que nem tudo se resume à negação e ao absurdo.
Mas é claro que nem tudo se resume à negação e ao absurdo.
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«DN» de 18 de Março de 2009
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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.