.
Por Antunes Ferreira
Por Antunes Ferreira
.
BANDALHO! Entre outros insultos este terá sido o que mais burburinho causou no hemiciclo de São Bento, quinta-feira. O autor foi o deputado do Partido Social Democrata, José Eduardo Martins, e os mimos tiveram como alvo Afonso Candal que faz parte do Grupo Partido Socialista. Uma cena parlamentar que, para mim, melhor se caracteriza como para lamentar.
BANDALHO! Entre outros insultos este terá sido o que mais burburinho causou no hemiciclo de São Bento, quinta-feira. O autor foi o deputado do Partido Social Democrata, José Eduardo Martins, e os mimos tiveram como alvo Afonso Candal que faz parte do Grupo Partido Socialista. Uma cena parlamentar que, para mim, melhor se caracteriza como para lamentar.
.
O representante social-democrata, que já fora Secretário de Estado nos Governos presididos por Durão Barroso (XV) e Santana Lopes (XVI), reconheceu que tinha errado e prejudicado essencialmente a sua bancada e o debate. Pelo que pediu desculpas aos restantes pares – menos ao que o provocara, no seu entender. Por isso quanto ao deputado Afonso Candal, afirmou que «com franqueza não retiro nada do que disse». E acrescentou em declarações à Comunicação Social «Não é qualquer um que pretende insultar-me, ainda que o faça com a manha que o fez, porque eu não sou de meias tintas».
O representante social-democrata, que já fora Secretário de Estado nos Governos presididos por Durão Barroso (XV) e Santana Lopes (XVI), reconheceu que tinha errado e prejudicado essencialmente a sua bancada e o debate. Pelo que pediu desculpas aos restantes pares – menos ao que o provocara, no seu entender. Por isso quanto ao deputado Afonso Candal, afirmou que «com franqueza não retiro nada do que disse». E acrescentou em declarações à Comunicação Social «Não é qualquer um que pretende insultar-me, ainda que o faça com a manha que o fez, porque eu não sou de meias tintas».
.
Ora muito bem. A Assembleia da I República registou inúmeros episódios como este. Em variadíssimos casos, com uma terminologia ainda pior. Tribunos houve que usaram o insulto como arma de arremesso frequente. Um exemplo, apenas: Brito Camacho. Mas, muitos outros. A Assembleia Nacional do Estado Novo foi muito diferente. A moral, os bons costumes e os desígnios mais elevados ao serviço da Pátria conduziram a uma linguagem suave, moderada, subtil, idílica.
Ora muito bem. A Assembleia da I República registou inúmeros episódios como este. Em variadíssimos casos, com uma terminologia ainda pior. Tribunos houve que usaram o insulto como arma de arremesso frequente. Um exemplo, apenas: Brito Camacho. Mas, muitos outros. A Assembleia Nacional do Estado Novo foi muito diferente. A moral, os bons costumes e os desígnios mais elevados ao serviço da Pátria conduziram a uma linguagem suave, moderada, subtil, idílica.
.
Enquanto as sessões primo republicanas eram aliciantes, frementes, até mesmo empolgantes, as da Velha Senhora eram medíocres, insossas, entediantes. A herança para o Parlamento de hoje é, portanto, complexa. Quais terão sido as sequelas de um e do outro sistema? A esgrima atacante da Primeira República ou o gamão sonífero da Velha Senhora? A ousadia ou o marasmo?
Enquanto as sessões primo republicanas eram aliciantes, frementes, até mesmo empolgantes, as da Velha Senhora eram medíocres, insossas, entediantes. A herança para o Parlamento de hoje é, portanto, complexa. Quais terão sido as sequelas de um e do outro sistema? A esgrima atacante da Primeira República ou o gamão sonífero da Velha Senhora? A ousadia ou o marasmo?
.
Neste actual São Bento ainda há quem recorde o cerco feito por trabalhadores e a discriminação concomitante dos deputados, consoante as cores partidárias. O dedo comunista apontado a todos os que não representavam o Partido pode ter sido um exemplo significativo do que teria sido uma vitória do leninismo/estalinismo em Portugal. Há mesmo quem considere que foi uma vacina para os que pensavam que o País fosse uma nova Cuba.
Neste actual São Bento ainda há quem recorde o cerco feito por trabalhadores e a discriminação concomitante dos deputados, consoante as cores partidárias. O dedo comunista apontado a todos os que não representavam o Partido pode ter sido um exemplo significativo do que teria sido uma vitória do leninismo/estalinismo em Portugal. Há mesmo quem considere que foi uma vacina para os que pensavam que o País fosse uma nova Cuba.
.
Aliás, o episódio é ainda recordado quando se refere a figura estranha do almirante Pinheiro de Azevedo e o sonoro badamerda que proferiu durante a ocorrência. Isso é uma das alíneas mais conhecidas do folclore revolucionário entre nós. O PREC sem esse tipo de Cóias não teria tido a piada que teve.
Aliás, o episódio é ainda recordado quando se refere a figura estranha do almirante Pinheiro de Azevedo e o sonoro badamerda que proferiu durante a ocorrência. Isso é uma das alíneas mais conhecidas do folclore revolucionário entre nós. O PREC sem esse tipo de Cóias não teria tido a piada que teve.
.
Agora, o caricato incidente que decorreu no hemiciclo legislador traz de novo à superfície aquilo que nós somos. Encaixamos coisas que ninguém poderia imaginar. Engolimos sapos vivíssimos da costa, como diria o meu Amigo Augusto Ferreira do Amaral. Intrigamos com mestria, dando de barato que é habilidade inata. E, sobretudo, assobiamos para disfarçar. Nisso, somos especialistas. E desenrascados.
Agora, o caricato incidente que decorreu no hemiciclo legislador traz de novo à superfície aquilo que nós somos. Encaixamos coisas que ninguém poderia imaginar. Engolimos sapos vivíssimos da costa, como diria o meu Amigo Augusto Ferreira do Amaral. Intrigamos com mestria, dando de barato que é habilidade inata. E, sobretudo, assobiamos para disfarçar. Nisso, somos especialistas. E desenrascados.
.
É por isso que o desbocado deputado laranja interpretou um episódio que soube a reprise do Parlamento da Primeira República, mas que ultrapassou a modorra da Assembleia Nacional. Sem curar de culpas, só por isso, o nome de José Eduardo Martins ficará nos anais de São Bento. A má educação tem um preço; mas, por vezes, dá a eternidade a quem a pratica.
É por isso que o desbocado deputado laranja interpretou um episódio que soube a reprise do Parlamento da Primeira República, mas que ultrapassou a modorra da Assembleia Nacional. Sem curar de culpas, só por isso, o nome de José Eduardo Martins ficará nos anais de São Bento. A má educação tem um preço; mas, por vezes, dá a eternidade a quem a pratica.
.
NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.