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Por Alice Vieira
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HÁ ALGUMAS semanas que só tenho tido alegrias.
A sério.
Os patrões têm-se portado bem, as crianças nas escolas têm-se portado bem, até o tempo se tem portado bem.
Se calhar é já o efeito-primavera, que adoça sempre tudo.
Ou se calhar sou eu que, desde que vim da Escola de Santa Catarina, ando com este ar beatífico de quem encontrou o Senhor no caminho de Damasco.
Por Alice Vieira
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HÁ ALGUMAS semanas que só tenho tido alegrias.
A sério.
Os patrões têm-se portado bem, as crianças nas escolas têm-se portado bem, até o tempo se tem portado bem.
Se calhar é já o efeito-primavera, que adoça sempre tudo.
Ou se calhar sou eu que, desde que vim da Escola de Santa Catarina, ando com este ar beatífico de quem encontrou o Senhor no caminho de Damasco.
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Deixem-me contar a história.
Deixem-me contar a história.
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A Escola EBI de Santa Catarina fica na região das Caldas da Rainha. Escola pública, que nem deve entrar naqueles rankings que de vez em quando por aí se publicam.
Recentemente o Conselho Executivo decidiu que iria haver um dia em que toda a gente na escola iria parar durante 45 minutos — e estaria a ler durante esses 45 minutos.
Ninguém podia fazer outra coisa que não fosse ler.
Durante 45 minutos.
E toda a gente significava toda a gente: desde o funcionário da entrada, até às empregadas, professores, alunos.
Toda a gente.
O que se chama mesmo toda a gente.
Escolheram o dia, cada um trouxe o livro que quis e, à hora marcada, do dia marcado, a escola parou.
A Escola EBI de Santa Catarina fica na região das Caldas da Rainha. Escola pública, que nem deve entrar naqueles rankings que de vez em quando por aí se publicam.
Recentemente o Conselho Executivo decidiu que iria haver um dia em que toda a gente na escola iria parar durante 45 minutos — e estaria a ler durante esses 45 minutos.
Ninguém podia fazer outra coisa que não fosse ler.
Durante 45 minutos.
E toda a gente significava toda a gente: desde o funcionário da entrada, até às empregadas, professores, alunos.
Toda a gente.
O que se chama mesmo toda a gente.
Escolheram o dia, cada um trouxe o livro que quis e, à hora marcada, do dia marcado, a escola parou.
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Durante 45 minutos toda a gente esteve a ler.
A professora contava-me tudo isto e ainda se emocionava.
“O mais impressionante de tudo”, dizia ela, “era o silêncio. Foram 45 minutos de um silêncio absoluto! Não se ouvia o mínimo ruído, toda a gente estava, realmente, absorvida na leitura.”
O êxito da iniciativa foi tal que já todos pedem que ela se repita em breve.
E, ao que parece, essa paragem de 45 minutos não interferiu em nada no bom andamento da escola: não houve desacatos, a papelada foi preenchida, a comida esteve pronta a horas, os programas não se atrasaram, os alunos não falaram ao telemóvel.
Foram 45 minutos de paz.
Possivelmente algumas das pessoas que nesse dia leram durante 45 minutos há muito que não pegavam num livro.
Possivelmente algumas das pessoas que nesse dia leram durante 45 minutos eram daquelas que constantemente repetem “eu tenho lá tempo para ler!”
Possivelmente algumas das pessoas que nesse dia leram durante 45 minutos até pertenceriam àquele grupo dos que afirmam “eu não gosto de ler”…
Possivelmente algumas das pessoas que nesse dia leram durante 45 minutos… mudaram de opinião.
Durante 45 minutos toda a gente esteve a ler.
A professora contava-me tudo isto e ainda se emocionava.
“O mais impressionante de tudo”, dizia ela, “era o silêncio. Foram 45 minutos de um silêncio absoluto! Não se ouvia o mínimo ruído, toda a gente estava, realmente, absorvida na leitura.”
O êxito da iniciativa foi tal que já todos pedem que ela se repita em breve.
E, ao que parece, essa paragem de 45 minutos não interferiu em nada no bom andamento da escola: não houve desacatos, a papelada foi preenchida, a comida esteve pronta a horas, os programas não se atrasaram, os alunos não falaram ao telemóvel.
Foram 45 minutos de paz.
Possivelmente algumas das pessoas que nesse dia leram durante 45 minutos há muito que não pegavam num livro.
Possivelmente algumas das pessoas que nesse dia leram durante 45 minutos eram daquelas que constantemente repetem “eu tenho lá tempo para ler!”
Possivelmente algumas das pessoas que nesse dia leram durante 45 minutos até pertenceriam àquele grupo dos que afirmam “eu não gosto de ler”…
Possivelmente algumas das pessoas que nesse dia leram durante 45 minutos… mudaram de opinião.
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Muitas vezes, iniciativas destas, aparentemente tão simples, têm mais força e são mais eficazes do que muitas campanhas anunciadas por aí com pompa, circunstância — e televisões acopladas…
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«JN» de 14 de Março de 2009
Muitas vezes, iniciativas destas, aparentemente tão simples, têm mais força e são mais eficazes do que muitas campanhas anunciadas por aí com pompa, circunstância — e televisões acopladas…
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«JN» de 14 de Março de 2009
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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.
NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.
2 comentários:
Uma bela iniciativa, realmente. Na minha escola ninguém perde tempo a ler. Nem eu. Geralmente leio um bocadinho numa padaria próxima, onde como um pãozinho quente com manteiga empurrado por um galão.
Caro Fábio;
Veja a NOTA que está no fim da crónica, pf:
De preferência, os comentários deverão ser afixados só no Sorumbático, para não estarem em 2 sítios.
Obrigado
Abraço
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