sexta-feira, 27 de março de 2009

Envelhecer

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Por Maria Filomena Mónica
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ANTEONTEM, fiz sessenta e cinco anos, ou seja, como se diz no jargão oficial, passei a ser «uma pessoa idosa». Eu teria preferido o termo «velha», mas mesmo este me soa estranho, porque tão pouco me sinto velha no sentido em que a minha bisavó e trisavó o eram. Em Dezembro de 1991, tinha quarenta e oito anos, dei uma entrevista à revista «Marie Claire». Lendo-a hoje o que me surpreende é o optimismo. É verdade que já então descobrira não ser imortal, mas, à época, declarava que ter cinquenta anos era a melhor coisa do mundo.
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A minha posição actual é mais complexa. Se há coisas boas no envelhecimento, as más ultrapassam-nas de longe. Começo pelas primeiras. À cabeça, a evidência de dispor de mais dinheiro, um benefício atenuado pelo facto de o prazer de fazer compras ter desaparecido. Dantes, qualquer roupa me servia. Agora, só encontro trajos desenhados para anoréxicas. Uma vez que é na cintura que a idade mais partidas nos prega, comprar um par de calças tornou-se numa tarefa morosa e aborrecida.
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Depois dos sessenta anos, raro é o dia em que não temos uma maleita. E não estou a falar de doenças graves, mas de pequenas aflições, uma subida da tensão arterial, uma dor de cabeça, uma lombalgia. Outro aspecto sobre qual a idade tem efeitos devastadores diz respeito às tecnologias. Levei anos a aprender a mudar um fusível, a lidar com uma panela de pressão e a programar um micro-ondas. Ainda consegui passar da máquina de escrever para o computador, mas a minha evolução parou aqui. Por saber que o tempo gasto a ler instruções não compensaria a utilidade ou o prazer que deles retirava, já não dei o salto para o telemóvel, muito menos para o iPod. Tendo em conta o que Henry James chamou «a imaginação para o desastre», podia passar horas a enumerar as desgraças que antevejo, mas não quero assustar os leitores. Basta dizer-lhes que o grande pânico é o de ficarmos sozinhos ou, pior ainda, o de passarmos a ser dependentes. Envelhecer é saber isto.
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Novembro de 2007
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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.