sábado, 14 de março de 2009

Receita para a crise

.
Por Antunes Ferreira
.
DE ACORDO COM A CGTP, a manifestação que ontem decorreu em Lisboa teve mais de 200 mil pessoas, o que, no entender da Central Sindical, foi a maior que alguma vez se verificou. No momento em que escrevo esta crónica, ainda não são conhecidos os números da PSP e do Governo. Mas, pelas imagens que as televisões já deram, (eu não estive lá) não custa a crer que a afirmação dos sindicalistas esteja, no mínimo, muito próxima da verdade.
.
No seu habitual discurso final destas movimentações de massas, o eterno Carvalho da Silva não quis comentar sobre o merecimento ou não de um nova maioria absoluta para os socialistas. Limitou-se a dizer: “O povo que escolha, mas uma coisa que é clara - este Governo tem cinco traços da sua governação que são muito maus: mais desemprego, mais precariedade, uma sociedade com mais promiscuidade entre os poderes e corrupção, quebras dos salários reais e uma degradação do modelo de desenvolvimento do país”. Foi, sem margem para dúvidas, o gato escondido com o rabo de fora.
.
Uma das constatações mais interessantes que pude retirar da manifestação, foi o secretário-geral da Intersindical ter referido o apelo recente de Cavaco Silva, tendo no entanto acrescentado que “mais do que solidariedade, é preciso acção”. E acrescentou que, como a CGTP não actua “pela negativa”, vai apresentar uma proposta, a 1 de Maio, para ajudar Portugal a sair da crise. Curioso. Quem ousaria prever o facto antes inconcebível de ver juntas duas personalidades tão distintas.
.
As coisas são o que são. A Central esmagadoramente comunista sabe, pois, como vencer a crise e salvar o País. Ou, pelo menos, sabe com ajudar a fazê-lo. O que, convenhamos, é excelente. Para Portugal, obviamente, mas – quem sabe? – a sua fórmula poderá aplicar-se ao Mundo inteiro. Quase diria que ela se pode comparar à poção mágica que dá força sobre humana ao famoso Astérix.
.
Mas, num caso de enorme gravidade como é este que vivemos, ironias como a que acabei de fazer podem perfeitamente ser qualificadas de estúpidas. Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Só que não acredito nessa descoberta, que, a ser real e verdadeira, levaria de novo, o nome dos Portugueses ao pináculo da glória. Mais, até, do que se verificou na época dos Descobrimentos. Com tanta gente – não quis dizer toda a gente, mas quase – a viver com as calças na mão, bendita seria a CGTP.
.
Desde Obama até à senhora Merkel, passando por Sarkozy, Putine, e muitíssimos mais dirigente políticos, todos elevariam um hossana em honra de Carvalho da Silva e seus camaradas. Até Bento XVI, no Vaticano. Seria obra! É que por mais que queiram ou não queiram as Oposições deste nosso País, a crise é global. Disseminou-se pelo Mundo fora. Não é da culpa deste ou daquele. É de todos. E, entretanto, o gratuito Meia Hora titulava na quinta-feira, a toda a largura da sua primeira página: «“Cowboy” Sócrates festeja quatro anos como senhor do faroeste».
.
A sociedade em que vamos vivendo está um verdadeiro caos. Mas não nos podemos esquecer de que foram os homens, ao longo dos milénios, os seus autores. Desde as cavernas até à actualidade, todos nós temos de assumir as nossas responsabilidades. A ninguém é permitido assobiar para o ar. A humanidade não é constituída por compartimentos estanques. É a mesma desde que o seu primeiro elemento, fosse ele qual fosse, começou a viver. Acentuo o pleonasmo: é humana.
.
NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.