sábado, 21 de março de 2009

O que a televisão tem para oferecer

.
Por Maria Filomena Mónica
.
HÁ QUINZE ANOS os portugueses passaram a usufruir de canais privados de televisão. Até ao dia 6 de Outubro de 1992 apenas existia a RTP, cujo dono era o Estado. Antes de eu prosseguir, vale a pena recordar o que nos era oferecido: telejornais politicamente controlados, séries medíocres e programas pseudo-intelectuais. De longe em longe, tínhamos acesso a um produto de qualidade, comprado, por acaso, numa dessas feiras onde os altos funcionários da RTP gostam de se pavonear.
.
Foi então que surgiu a SIC – com um estilo novo e vibrante – e a TVI – oscilando entre o báculo do bispo e a privada ganância. A RTP tentou reagir, produzindo concursos imbecis, a TVI abraçou-se ao «Big Brother» e a SIC perdeu o vigor inicial. Hoje, temos quatro canais, lutando igualmente por audiências, o que acaba por os tornar indiferenciados. Por melhor que seja uma ideia, nenhum se arrisca a colocar no ar um programa se não tiver a certeza de que lhe assegura o máximo de lucro. E, no entanto, se me perguntarem se critico o Estado por ter aberto o espaço hertziano à iniciativa privada, a minha resposta é negativa. Considero que tudo é melhor do que uma televisão controlada pelo poder político.
.
Não há contudo país na Europa em que o desprezo pelos telespectadores seja tão claro. À degradação moral, acresce a falta de cumprimento das leis sobre a publicidade. No último mês de Agosto [2007], a RTP, a SIC e a TVI emitiram um conjunto de 68.646 peças publicitárias, o que equivale a uma média diária de 4 horas por canal, praticamente o tempo médio (3 horas e meia) que os portugueses dedicam por dia à televisão. Num país tradicionalmente miserável, a televisão transformou-se no refúgio de quem, nos tempos livres, não tem outra solução que não seja a de permanecer em casa. É por isso que aquilo que exibe – telenovelas mais publicidade mais concursos - me escandaliza. Nem todos podem, como eu, desligar o aparelho e encomendar DVD's à Amazon. Aliás, não é legítimo que o Estado me obrigue a pagar um bem que não uso. Um dia destes, ainda o ponho em tribunal.

.
Outubro de 2007