sábado, 23 de maio de 2009

Entrevista empolgante

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Por Antunes Ferreira
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O QUE SE PASSOU ONTEM no Jornal de Sexta da TVI foi uma cena inqualificável. A entrevista feita por Manuela Moura Guedes a Marinho Pinto foi a demonstração perfeita do que por aquelas bandas televisivas acontece no «tempo de informação» do penúltimo dia de cada semana. Pior é difícil que volte a acontecer. Isto, se José Eduardo Moniz não voltar a aparecer no ecrã a defender o que é indefensável: a esposa e o (dito) noticiário. De resto, volto atrás na intenção de não qualificar o ocorrido: foi uma peixeirada, sem adjectivos, aliás desnecessários.
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Não pretendo vir aqui lavar roupa suja, com a qual – a existir – nada tenho que ver. Não me arvoro em juiz do que quer que seja, não me considero um moralista ou um puritano, não alinho em julgamentos televisivos, como não o faço perante os (mal) chamados julgamentos populares. Defendo, como sempre defendi e defenderei, o Estado de Direito. Que, por vezes, se me afigura um tanto esquecido entre nós – e por nós.
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O Bastonário da Ordem dos Advogados explodiu face ao interrogatório da apresentadora. A Santa Inquisição e, em especial, Tomás de Torquemada nada teriam a aprender com o procedimento de Manuela Moura Guedes. Quando muito, pôr-se-iam em dia com o que se verifica pela TVI às sextas-feiras. Obviamente sem Autos de Fé, nem fogueiras. Mas a actualização, essa, estava lá no estúdio.
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É sobejamente conhecido o feitio de António Marinho Pinto e o que ele tem motivado, sobretudo da parte de colegas que se sentem atingidos pelas afirmações dele. É um tanto estranho que causídicos, natural e normalmente caracterizados pelo conhecimento das leis e dos processos, se confessem enganados por um que elegeram para seu Bastonário. Implicitamente, está bem de ver, porque ainda não o disseram com todas as letras.
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Porém, o que é facto é que muitos advogados pedem a cabeça de Marinho Pinto. Por motivos diversos, alegam. Mas, penso eu – e penso também que tenho o direito de o pensar – pelo que o Bastonário tem de incómodo quando se pronuncia sobre muitos dos seus pares. As coisas são o que são: os que dizem o que pensam ser a verdade são sempre considerados inconvenientes. No tempo salazarento, a expressão usada era serem uns perigosos subversivos. Eu fui assim apelidado. Entre outros mimos que me endereçaram.
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O que ontem aconteceu em Queluz de Baixo deu azo a que o qualificativo geográfico dos estúdios tivesse sido completamente justificado: baixo. Na entrevista, Marinho Pinto, ao ser apelidado de «bufo» pela jornalista Moura Guedes, respondeu-lhe afirmando que ela «não tem autoridade nenhuma para emitir juízos de valor acerca do que se passa na justiça», e continuando no mesmo tom, acusou-a de fazer um «péssimo jornalismo» que «viola sistematicamente o código deontológico».
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A entrevista não acabou sem o Bastonário da Ordem dos Advogados afirmar que «se você me quiser fazer uma entrevista decente eu estarei disponível, mas… esta estação devia ter aqui uma jornalista decente e não alguém que deturpa constantemente as regras do jornalismo».
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Já não me restam quaisquer dúvidas: por vezes a TVI e a sua directora-adjunta da Informação fornecem-me motivos de sobra para usar o termo – são empolgantes.
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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.