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Por Maria Filomena Mónica
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ONTEM [7 Jan 08], RECEBI UM MANIFESTO intitulado «Cidadãos de Portugal», em que se apelava aos portugueses para retirarem o seu dinheiro do BCP, com base em que este iria ser controlado pelo PS, e da CGD, a qual iria passar para as mãos do PSD. Não sei como arranjaram o meu endereço electrónico, nem qual o motivo que terá levado os organizadores a pensar que teria conta numa destas organizações.
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Há muitos anos, estava o BCP em processo de parto, apareceu cá em casa um rapazola, declarando que iria ser criado um estabelecimento financeiro que se deslocaria até mim. Radiante com o serviço a domicilio, entreguei-lhe a minha poupança, mas a felicidade não durou. Pouco depois, soube que o tal banco não recrutava mulheres, o que me levou a retirar o pecúlio do mealheiro machista. Quanto à CGD, outros galos cantaram. Durante décadas, fui obrigada a receber o meu salário através do dito, com base em que era assim desde tempos imemorais. Na companhia do meu amigo Manuel Lucena, pensámos resistir, mas acabámos por nada fazer, até descobrirmos, com prazer, que o Estado abdicara do direito de pernada. Foi então que juntei as minhas contas num banco situado a dois minutos de casa, o Fonsecas&Burnay, hoje BPI.
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Apesar das peripécias da dupla CGD-BCP não me afectarem directamente, o espectáculo é deprimente, porque prova que trinta e quatro anos depois do 25 de Abril e vinte e dois após a adesão à Europa, não avançámos um milímetro. Como no século XIX e, mais tarde, no Estado Novo, é o poder político quem faz e desfaz fortunas. Durante a Monarquia Constitucional, era o contrato do tabaco – um monopólio que o Estado entregava ao seu favorito – que enchia os bolsos dos ricos (incluindo os de Henry Burnay, o fundador do meu banco), como, após o advento de Salazar, só enriquecia quem era abrangido pelo chamado condicionamento industrial. Fez-se uma revolução, houve saneamentos, nacionalizaram-se empresas, mas lá em cima, eterno e omnipotente, está, ainda e sempre, o Estado. O monstro não é o défice, mas o poder tal qual está organizado.
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Janeiro de 2008
Por Maria Filomena Mónica
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ONTEM [7 Jan 08], RECEBI UM MANIFESTO intitulado «Cidadãos de Portugal», em que se apelava aos portugueses para retirarem o seu dinheiro do BCP, com base em que este iria ser controlado pelo PS, e da CGD, a qual iria passar para as mãos do PSD. Não sei como arranjaram o meu endereço electrónico, nem qual o motivo que terá levado os organizadores a pensar que teria conta numa destas organizações.
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Há muitos anos, estava o BCP em processo de parto, apareceu cá em casa um rapazola, declarando que iria ser criado um estabelecimento financeiro que se deslocaria até mim. Radiante com o serviço a domicilio, entreguei-lhe a minha poupança, mas a felicidade não durou. Pouco depois, soube que o tal banco não recrutava mulheres, o que me levou a retirar o pecúlio do mealheiro machista. Quanto à CGD, outros galos cantaram. Durante décadas, fui obrigada a receber o meu salário através do dito, com base em que era assim desde tempos imemorais. Na companhia do meu amigo Manuel Lucena, pensámos resistir, mas acabámos por nada fazer, até descobrirmos, com prazer, que o Estado abdicara do direito de pernada. Foi então que juntei as minhas contas num banco situado a dois minutos de casa, o Fonsecas&Burnay, hoje BPI.
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Apesar das peripécias da dupla CGD-BCP não me afectarem directamente, o espectáculo é deprimente, porque prova que trinta e quatro anos depois do 25 de Abril e vinte e dois após a adesão à Europa, não avançámos um milímetro. Como no século XIX e, mais tarde, no Estado Novo, é o poder político quem faz e desfaz fortunas. Durante a Monarquia Constitucional, era o contrato do tabaco – um monopólio que o Estado entregava ao seu favorito – que enchia os bolsos dos ricos (incluindo os de Henry Burnay, o fundador do meu banco), como, após o advento de Salazar, só enriquecia quem era abrangido pelo chamado condicionamento industrial. Fez-se uma revolução, houve saneamentos, nacionalizaram-se empresas, mas lá em cima, eterno e omnipotente, está, ainda e sempre, o Estado. O monstro não é o défice, mas o poder tal qual está organizado.
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Janeiro de 2008
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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.