terça-feira, 26 de maio de 2009

Há 90 anos, na ilha de Príncipe

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Por Nuno Crato
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EM 1919, A TEORIA da relatividade de Einstein, formulada em 1905 na sua versão restrita e em 1916 na sua forma geral, era já famosa entre os investigadores, mas era ainda desconhecida do público e ainda muito pouco referida nas universidades. Era então, em grande parte, uma formulação matemática que explicava fenómenos paradoxais sobre o comportamento da luz, mas que não tinha sido objecto de nenhum teste decisivo. A ocasião surgiu em 1919, com um eclipse total que permitiria registar a luz das estrelas passando perto do Sol. Nesse alinhamento, as estrelas tornam-se invisíveis para nós, pois o muito maior brilho do Sol esconde-as.
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Mas durante um eclipse total passam a ser visíveis, pois a Lua esconde completamente a nossa estrela. Fotografando as estrelas no limbo do Sol, pensaram os cientistas, seria possível medir o seu deslocamento aparente. Esse deslocamento seria devido à deflexão da luz na passagem por perto de um objecto de grande massa: o Sol. Ora a teoria de Newton previa um afastamento diferente do previsto pela teoria de Einstein. Era altura de pôr à prova a teoria da relatividade geral.
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Organizaram-se duas expedições para fotografar o eclipse. Uma à ilha de Príncipe e outra a Sobral, no Brasil, dois locais situados na faixa de totalidade do eclipse e dois territórios de língua portuguesa. O astrónomo britânico Arthur Eddington, figura central na comprovação e divulgação da relatividade, esteve em Príncipe, numa expedição atribulada. Outros astrónomos britânicos deslocaram-se a Sobral. Os resultados das medidas, que essencialmente corroboraram a relatividade, deram a Einstein uma notoriedade internacional.
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Tudo isto, e a introdução da relatividade em Portugal, foi discutido esta semana em animadas sessões na Sociedade de Geografia de Lisboa e na Biblioteca Nacional. Nesta última, decorre actualmente a magnífica exposição "Estrelas de Papel", dedicada à astronomia, onde se mostram as obras mais emblemáticas dos séculos XIV a XVIII, incluindo o período da revolução astronómica. A mostra é complementada com alguns instrumentos científicos da época.
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Quinta-feira 28 de Maio, no Observatório Astronómico de Lisboa, à Ajuda, a partir das 14h30, há um outro evento público comemorativo dos 90 anos da expedição de Eddington. Nele se fala do papel dos astrónomos portugueses no acompanhamento das novidades científicas que Einstein e outros trouxeram ao mundo.
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Os interessados, além de seguirem as sessões, podem ler um artigo (doi:10.1017/S0007087408001568) recentemente publicado no "British Journal for the History of Science", onde Elsa Mota, Paulo Crawford e Ana Simões explicam o desinteresse das instituições portuguesas na revolução einsteiniana, mas sublinham o papel de alguns astrónomos, nomeadamente de Manuel S. Melo e Simas (1870-1934), que tentou uma verificação observacional da teoria da relatividade. Este cientista procurou medir a deflexão da luz ao passar perto de Júpiter, o planeta de maior massa do sistema solar, de forma a complementar as observações do eclipse de 1919.
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Quem for ao observatório da Ajuda terá ainda ocasião, no final, de fazer uma visita guiada ao próprio observatório. É uma oportunidade, infelizmente rara, de ver uma das maiores preciosidades científicas do nosso país.
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«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 23 de Maio de 2009
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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.