sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Alguém tem que ceder

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Por João Paulo Guerra

A COMÉDIA romântica com argumento e realização de Nancy Meyers intitulada “Something’s Gotta Give”, exibida em Portugal com o título “Alguém tem que ceder”, conta a história de um ‘playboy’ irrecuperável perdido entre a mais recente conquista e a inesperada mãe da jovem.

Pelo meio, o ‘playboy' é traído pelo coração propriamente dito, o jovem médico assistente antecipa-se na sedução da mãe da miúda e o filme acaba bem, romanticamente, em Paris.

E só mesmo o título é que pode sugerir alguma comparação com a banal ‘sitcom' de política de cordel entre dois partidos tão sequiosos de poder como ansiosos por se livrarem do incómodo de ter que prestar contas pela governação. A política portuguesa está cheia de fugitivos, de agentes políticos que fazem da política o trânsito para a vida regalada - até agora - dos conselhos de administração, com prebendas, sinecuras, tachos, penachos e regalias correlativas. Não há memória de qualquer político que tenha ficado mal na vida e não foi seguramente à custa do subsídio de reintegração.

A cena em exibição entre Governo e PSD é de baixa comédia e baixinha política. O Governo, por mais que diga, tem mais medo de eleições que do FMI. O PSD, por mais que conte, quer que o PS faça o trabalho sujo de pôr em vigor este Orçamento saqueador. O Governo quer que o PSD se comprometa com o Orçamento para que o ónus não bata apenas à porta do Largo do Rato. O PSD quer deixar o PS, sozinho, a contas com alguma fúria do eleitorado. E o povo que paga o bilhete para o triste espectáculo, também paga os cenários, o guarda-roupa, os adereços, os efeitos especiais, as comedorias, mais as vitualhas do banquete.

Alguém tem que ceder? Que ceda o povinho que é para isso que cá anda.
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«DE» de 29 Out 10