.
Por João Paulo Guerra
PORTUGAL no seu dia-a-dia é um permanente tributo à memória de Raul Solnado. Nos anos 60, quando Solnado gravou a História da sua ida à Guerra, Portugal travava uma guerra absurda e incompetente, que municiava os batalhões da Índia com caixotes de chouriços e dispunha cozinheiros e escriturários, armados com obsoletas espingardas Mauser, para enfrentar um eventual desembarque da Real Marinha inglesa que bloqueava o porto da Beira. A expressão "isto parece a guerra do Solnado" passou mesmo a ser um dos mais frequentes desabafos das tropas mobilizadas.
Desde então, Portugal tem feito um assinalável esforço por adequar a sua realidade ao nonsense de Raul Solnado. E o nonsense cada vez faz mais sentido em Portugal. Ontem mesmo, a propósito da crise, o secretismo dos Serviços Secretos vinha posto a nu no jornal Público: dificuldades de tesouraria, problemas financeiros, dificuldades operacionais. Admite-se mesmo o cancelamento de operações, o fecho de «estações» e despedimento de «espiões». Portugal, que já se tinha notabilizado no ramo ao divulgar pelos 230 deputados do Parlamento mais os incontáveis membros dos gabinetes parlamentares a lista dos agentes secretos, põe agora em letra de forma, ou se preferirem em caracteres, as misérias dos Serviços Secretos.
Solnado já tinha visionado este panorama pelintra e amador. "Cheguei à guerra do inimigo, bati à porta, a sentinela espreitou pela frincha e perguntou: ‘Quem é?". E eu respondi: "Sou a Maria Albertina". Malandrice. "O que é que queres?". "Eu venho cá buscar os planos da pólvora". E ele perguntou. "Trabalhas d' espia há muito tempo?". "Trabalho desde as 11".
A história do Solnado está à beira da realidade, com "espiões" a recibo verde a espiarem o inimigo a prazo.
.Por João Paulo Guerra
PORTUGAL no seu dia-a-dia é um permanente tributo à memória de Raul Solnado. Nos anos 60, quando Solnado gravou a História da sua ida à Guerra, Portugal travava uma guerra absurda e incompetente, que municiava os batalhões da Índia com caixotes de chouriços e dispunha cozinheiros e escriturários, armados com obsoletas espingardas Mauser, para enfrentar um eventual desembarque da Real Marinha inglesa que bloqueava o porto da Beira. A expressão "isto parece a guerra do Solnado" passou mesmo a ser um dos mais frequentes desabafos das tropas mobilizadas.
Desde então, Portugal tem feito um assinalável esforço por adequar a sua realidade ao nonsense de Raul Solnado. E o nonsense cada vez faz mais sentido em Portugal. Ontem mesmo, a propósito da crise, o secretismo dos Serviços Secretos vinha posto a nu no jornal Público: dificuldades de tesouraria, problemas financeiros, dificuldades operacionais. Admite-se mesmo o cancelamento de operações, o fecho de «estações» e despedimento de «espiões». Portugal, que já se tinha notabilizado no ramo ao divulgar pelos 230 deputados do Parlamento mais os incontáveis membros dos gabinetes parlamentares a lista dos agentes secretos, põe agora em letra de forma, ou se preferirem em caracteres, as misérias dos Serviços Secretos.
Solnado já tinha visionado este panorama pelintra e amador. "Cheguei à guerra do inimigo, bati à porta, a sentinela espreitou pela frincha e perguntou: ‘Quem é?". E eu respondi: "Sou a Maria Albertina". Malandrice. "O que é que queres?". "Eu venho cá buscar os planos da pólvora". E ele perguntou. "Trabalhas d' espia há muito tempo?". "Trabalho desde as 11".
A história do Solnado está à beira da realidade, com "espiões" a recibo verde a espiarem o inimigo a prazo.
«DE» de 12 Out 10