sexta-feira, 1 de outubro de 2010

«Dito & Feito»

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Por José António Lima

TRÊS CONCLUSÕES, todas elas politicamente pouco abonatórias para José Sócrates, resultam desde logo do pacote de medidas anticrise anunciado pelo Governo.

A primeira é a de que o chefe do Governo andou a negar a realidade que todos lhe apontavam e a iludir os portugueses, durante mais de um ano. Adiando, até aos limites da irresponsabilidade pública, as inevitáveis decisões para combater o galopante défice das contas do Estado.

Só o fez em desespero de causa, depois de tudo e de todos os outros, forçado pela pressão das autoridades europeias, da incomportável subida dos juros da dívida portuguesa e do ultimato do seu desamparado ministro das Finanças. O país pagou um preço elevado por essa cegueira obstinada.

A segunda conclusão é a de que José Sócrates optou, como sempre, pelo caminho mais fácil. Aumentou impostos em Maio, volta a subi-los em Setembro e, ao invés de reduzir drasticamente o número de serviços, institutos, fundações, empresas públicas e municipais que tornam insustentável o monstro despesista do Estado, optou por empobrecer ainda mais o funcionalismo público.

Em vez de suprimir organismos, diminuindo o peso do funcionamento e das clientelas partidárias em centenas de serviços inúteis ou parasitários, preferiu aplicar a receita do costume a todos os funcionários públicos - tanto aos competentes e indispensáveis como aos improdutivos e excedentários - apertando-lhes ainda mais o cinto.

Os 2.600 milhões ocasionais do fundo de pensões da PT ou os mais de 2.000 milhões de impostos agravados esgotar-se-ão rapidamente. Mas o gigantismo despesista da máquina do Estado continua lá, intocado: em 2012 ou 2013 voltará a asfixiar a economia do país. E com encargos acrescidos de parcerias público-privadas, fundos de pensões para pagar, etc., etc. Sobem-se, de novo, os impostos?

A terceira conclusão é a da falência absoluta do discurso do Estado Social. Com pensões congeladas, abonos da família eliminados, despesas em medicamentos e saúde aumentadas, IVA a 23%, deduções fiscais reduzidas, rendimento social de inserção e subsídio de desemprego diminuídos - com tudo isto e muito mais Sócrates ou algum responsável do PS ainda terão a desfaçatez de insistir no discurso do Estado Social? Provavelmente, têm.
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«Sol» de 1 Out 10