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Por Rui Tavares
DURANTE O VERÃO, Pedro Passos Coelho começou a parecer-se com o tipo que ganhou o euromilhões mas não teve tempo para levantar o prémio.
Semanas ou meses antes, com um empurrãozinho do caso PT/TVI, o poder ter-lhe-ia caído no colo. As sondagens eram boas, Pedro Passos Coelho teria chegado a primeiro-ministro se as eleições tivessem sido antecipadas naquela altura. Mas ele preferiu esperar que o governo “caísse de maduro”, no que aliás tinha o acordo da maioria dos comentadores da sua área política, ou preferiu “cozer o governo em lume brando”, como dizem os sabichões destas coisas, ou ainda, noutra frase também muito usada nestas ocasiões, “decidiu que não era o seu momento”.
Passos recuou quando era possível fazer cair o governo por causa de um caso político de interferência nos media, de grande ou plausível gravidade para a maioria do eleitorado, desligado da crise do euro, e que acima de tudo parecia ser responsabilidade exclusiva do primeiro-ministro. Pessoalmente, Passos Coelho tinha tudo a ganhar e pouco a perder, mas não teve aquele instinto matador que um político talentoso supostamente tem de ter. Só não precisaria de ter ficado em pânico depois.
Passado alguns meses, Passos Coelho tem aos olhos do eleitorado a mesma credibilidade que tem Sócrates — se pensarmos bem, até custa a crer que tenha caído tão rápido – a que se acrescenta a perene característica de qualquer líder do PSD: são todos tão nabos que parecem ter sido escolhidos na prateleiras da mercearia e não nas diretas do partido.
As sondagens são agora ambíguas ou mesmo más para ele e serão piores os resultados eleitorais se as eleições se derem após uma crise política na qual ele tenha responsabilidade pessoal. Essa crise política estaria diretamente relacionada com a crise orçamental, que certamente agravaria; num momento em que os “mercados” já desejam ver a situação do país como desesperada, Passos Coelho daria uma ajuda a que ela se tornasse efetivamente desesperada.
Acresce a isto que Passos Coelho provocaria esta crise chumbando um orçamento que parece feito de acordo com os desejos da área opinativa do PSD, mais do que qualquer outra. E achará ele que este é o seu momento?
Reformulando a pergunta: Passos Coelho não quis fazer cair o governo num momento que era de responsabilização mínima e ganho máximo para ele, e agora arriscaria fazê-lo num momento que é de responsabilização máxima e resultados mínimos ou até negativos? Não faz sentido. E, como não faz sentido, eu diria que não vai acontecer, e que Passos Coelho estará preparando por estes dias um recuo airoso. Para a próxima, poderá até poupar-nos ao drama preliminar, que só lhe dá a imagem de um líder intempestivo — ou seja, aquilo que o eleitorado já tem e não deseja.
De forma que a conclusão para Pedro Passos Coelho deveria ser, agora sim: este não é o seu momento. Nos próximos tempos ele terá de esperar. Também, que diabo, isto não é como ter perdido o bilhete do euromilhões premiado e não ter mais do que uma probabilidade infinitesimal de voltar a ganhar. Para mal dos nossos pecados, e de forma quase independente dos talentos que qualquer político tenha, quem for líder de um dois grandes partidos em Portugal arrisca-se sempre a chegar a primeiro-ministro.
.Por Rui Tavares
DURANTE O VERÃO, Pedro Passos Coelho começou a parecer-se com o tipo que ganhou o euromilhões mas não teve tempo para levantar o prémio.
Semanas ou meses antes, com um empurrãozinho do caso PT/TVI, o poder ter-lhe-ia caído no colo. As sondagens eram boas, Pedro Passos Coelho teria chegado a primeiro-ministro se as eleições tivessem sido antecipadas naquela altura. Mas ele preferiu esperar que o governo “caísse de maduro”, no que aliás tinha o acordo da maioria dos comentadores da sua área política, ou preferiu “cozer o governo em lume brando”, como dizem os sabichões destas coisas, ou ainda, noutra frase também muito usada nestas ocasiões, “decidiu que não era o seu momento”.
Passos recuou quando era possível fazer cair o governo por causa de um caso político de interferência nos media, de grande ou plausível gravidade para a maioria do eleitorado, desligado da crise do euro, e que acima de tudo parecia ser responsabilidade exclusiva do primeiro-ministro. Pessoalmente, Passos Coelho tinha tudo a ganhar e pouco a perder, mas não teve aquele instinto matador que um político talentoso supostamente tem de ter. Só não precisaria de ter ficado em pânico depois.
Passado alguns meses, Passos Coelho tem aos olhos do eleitorado a mesma credibilidade que tem Sócrates — se pensarmos bem, até custa a crer que tenha caído tão rápido – a que se acrescenta a perene característica de qualquer líder do PSD: são todos tão nabos que parecem ter sido escolhidos na prateleiras da mercearia e não nas diretas do partido.
As sondagens são agora ambíguas ou mesmo más para ele e serão piores os resultados eleitorais se as eleições se derem após uma crise política na qual ele tenha responsabilidade pessoal. Essa crise política estaria diretamente relacionada com a crise orçamental, que certamente agravaria; num momento em que os “mercados” já desejam ver a situação do país como desesperada, Passos Coelho daria uma ajuda a que ela se tornasse efetivamente desesperada.
Acresce a isto que Passos Coelho provocaria esta crise chumbando um orçamento que parece feito de acordo com os desejos da área opinativa do PSD, mais do que qualquer outra. E achará ele que este é o seu momento?
Reformulando a pergunta: Passos Coelho não quis fazer cair o governo num momento que era de responsabilização mínima e ganho máximo para ele, e agora arriscaria fazê-lo num momento que é de responsabilização máxima e resultados mínimos ou até negativos? Não faz sentido. E, como não faz sentido, eu diria que não vai acontecer, e que Passos Coelho estará preparando por estes dias um recuo airoso. Para a próxima, poderá até poupar-nos ao drama preliminar, que só lhe dá a imagem de um líder intempestivo — ou seja, aquilo que o eleitorado já tem e não deseja.
De forma que a conclusão para Pedro Passos Coelho deveria ser, agora sim: este não é o seu momento. Nos próximos tempos ele terá de esperar. Também, que diabo, isto não é como ter perdido o bilhete do euromilhões premiado e não ter mais do que uma probabilidade infinitesimal de voltar a ganhar. Para mal dos nossos pecados, e de forma quase independente dos talentos que qualquer político tenha, quem for líder de um dois grandes partidos em Portugal arrisca-se sempre a chegar a primeiro-ministro.
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