segunda-feira, 9 de novembro de 2009

«Dito & Feito»

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Por José António Lima

A OPERAÇÃO 'FACE OCULTA’
começou a desvendar uma rede de negociatas que envolve o submundo político-empresarial e uma miríade de empresas com participações do Estado: REN, Galp, EDP, PT, Refer, etc., etc. E veio demonstrar até que ponto está corroído pela pequena e média corrupção, pelo tráfico de influências e os favorecimentos a troco de subornos, todo o vasto aparelho formado pelos incontáveis cargos de designação pública, desde os quadros intermédios a decisores de topo.

Acresce que o sentido de serviço ao bem público e o sentimento de defesa do prestígio e respeitabilidade das instituições se degradaram a tal ponto que muitos dos que as representam nem quando se vêem envolvidos em investigações e processos judiciais sentem o dever de se afastar de funções.

Se, há uns anos, António Vitorino ou Jorge Coelho resignaram de imediato aos cargos públicos que ocupavam, para salvaguarda do bom nome das instituições, independentemente das responsabilidades a apurar, agora, Armando Vara ou José Penedos só suspendem funções ao fim de vários dias e empurrados pela força de várias pressões.

Na conferência organizada há uma semana pelo SOL para o lançamento do livro de Ernâni Lopes, A Economia no Futuro de Portugal, tanto o autor como Vítor Bento impressionaram pela lucidez e profundidade de análise sobre o «definhamento de Portugal» nas últimas décadas, os desequilíbrios que resultam «da acumulação do endividamento» de um país que «consome muito acima do que é produzido» e da inexistência de uma «elite dirigente» respeitada, de uma classe política com «uma base robusta de fundamentação moral».

Falando da importância do trinómio «valores/atitudes/padrões de comportamento», Ernâni Lopes acredita que, «em paralelo com o que de pior encontramos» na realidade portuguesa, «existe muito de são, de honesto e de esforçado». Os exemplos recentes, reconheça-se, não são, no entanto, os mais animadores.

Até o pilar de valores e comportamentos que pretende ser a Igreja católica mantém em funções um padre, o de Boticas, que tinha em casa um arsenal ilegal de armas, que negoceia empréstimos e juros com os seus paroquianos como um usurário, que acumula terrenos, casas e dinheiro.

Não foi Jesus que expulsou os vendilhões do templo, derrubando as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que aí comerciavam? Já nem a Igreja segue os seus ensinamentos.

«SOL» de 6 Nov 09