Por Maria Filomena Mónica
ESTE VERÃO [2008] FUI AO NORTE onde convivi com algumas jovens mães. Reparei que não só observavam os movimentos dos filhos com um zelo patológico, como, ao fim do dia, pareciam besouros cansados. Pelos vistos, as férias grandes transformaram-se numa sucessão de actividades: ele são campos de férias, ele são aulas de pintura, ele são lições de equitação. No mundo moderno, as crianças são alvo de uma atenção que só lhes pode trazer prejuízos.
É natural que os pais desejem oferecer-lhes o melhor, mas há limites ao que podem fazer: uma educação primorosa pode dar lugar a um delinquente e uma infância descurada a um génio. É útil recordar que, em séculos pretéritos, os pais não se preocupavam com tal matéria. Aliás, ao longo da História, ninguém prestava atenção - excepto no caso dos príncipes – à educação. Na ficção oitocentista, há de tudo, desde relatos de bom comportamento, como as meninas da condessa de Ségur, a casos de rebeldes incorrigíveis, como Tom Sawyer.
Em Portugal, o meu exemplo preferido é o do queiroziano Fradique Mendes: «A sua primeira educação fora singularmente emaranhada: o capelão de D. Angelina, antigo frade beneditino ensinou-lhe o latim, a doutrina, o horror à Maçonaria e outros princípios sólidos; depois um coronel francês, duro jacobino que se batera em 1830 na barricada de St Merry, veio abalar estes alicerces espirituais, fazendo traduzir ao rapaz a Pucelle de Voltaire e a Declaração dos Direitos do Homem; e finalmente um alemão (…) se dizia parente de Emanuel Kant, completou a confusão iniciando Carlos, ainda antes de lhe nascer o buço, na Crítica da Razão Pura».
Se tivesse filhos menores, que não tenho, e se fosse rica, o que tão pouco é o caso, iria passar férias à quinta da Penha Longa, onde, segundo os jornais, há um «kids club», onde os pimpolhos aprendem golfe sem os pais terem de se mexer, o que lhes permitirá ler as recentemente editadas memórias de Churchill, Os Meus Primeiros Anos, uma revelação para quem pensa que os meninos têm de ser tratados como flores de estufa.
Agosto de 2008
ESTE VERÃO [2008] FUI AO NORTE onde convivi com algumas jovens mães. Reparei que não só observavam os movimentos dos filhos com um zelo patológico, como, ao fim do dia, pareciam besouros cansados. Pelos vistos, as férias grandes transformaram-se numa sucessão de actividades: ele são campos de férias, ele são aulas de pintura, ele são lições de equitação. No mundo moderno, as crianças são alvo de uma atenção que só lhes pode trazer prejuízos.
É natural que os pais desejem oferecer-lhes o melhor, mas há limites ao que podem fazer: uma educação primorosa pode dar lugar a um delinquente e uma infância descurada a um génio. É útil recordar que, em séculos pretéritos, os pais não se preocupavam com tal matéria. Aliás, ao longo da História, ninguém prestava atenção - excepto no caso dos príncipes – à educação. Na ficção oitocentista, há de tudo, desde relatos de bom comportamento, como as meninas da condessa de Ségur, a casos de rebeldes incorrigíveis, como Tom Sawyer.
Em Portugal, o meu exemplo preferido é o do queiroziano Fradique Mendes: «A sua primeira educação fora singularmente emaranhada: o capelão de D. Angelina, antigo frade beneditino ensinou-lhe o latim, a doutrina, o horror à Maçonaria e outros princípios sólidos; depois um coronel francês, duro jacobino que se batera em 1830 na barricada de St Merry, veio abalar estes alicerces espirituais, fazendo traduzir ao rapaz a Pucelle de Voltaire e a Declaração dos Direitos do Homem; e finalmente um alemão (…) se dizia parente de Emanuel Kant, completou a confusão iniciando Carlos, ainda antes de lhe nascer o buço, na Crítica da Razão Pura».
Se tivesse filhos menores, que não tenho, e se fosse rica, o que tão pouco é o caso, iria passar férias à quinta da Penha Longa, onde, segundo os jornais, há um «kids club», onde os pimpolhos aprendem golfe sem os pais terem de se mexer, o que lhes permitirá ler as recentemente editadas memórias de Churchill, Os Meus Primeiros Anos, uma revelação para quem pensa que os meninos têm de ser tratados como flores de estufa.
Agosto de 2008