quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Dito & Feito

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Por José António Lima

O QUINHÃO DE AUTORIDADE perdida e de credibilidade desgastada que José Sócrates parecia ter recuperado com a vitória minoritária nas legislativas de 27 de Setembro esfumou-se em pouco mais de um mês com os danos colaterais com que foi atingido pelo processo ‘Face Oculta’. Não é só a confirmação de que seguia, interessada e pessoalmente, os negócios da TVI e outros órgãos de comunicação antes de o ter negado no Parlamento. Nem é apenas a dúvida que permanecerá sobre o facto de os magistrados de Aveiro terem encontrado razões para extraírem certidões sobre as suas conversas telefónicas. O problema de Sócrates é, sobretudo, a rede de corrupção e tráfico de influências desvendada pela ‘Face Oculta’ envolver um círculo de personagens e fidelidades, de Armando Vara a Paiva Nunes, que lhe é muito próximo. É mais uma mancha, a juntar a outras de processos com ele relacionados e sempre mal explicados, na abalada imagem do primeiro-ministro.

E a verdade é que não há memória de um chefe de Governo com tantos incidentes e casos pendentes a cada pedra que se levanta do seu percurso. Nunca se viu nada semelhante, por exemplo, com Guterres ou Cavaco, que estiveram longos anos em S. Bento e sujeitos ao mesmo tipo de escrutínio.

Com tudo isto, a figura de Sócrates corre o risco de se tornar incómoda não só para o Governo do país como para o próprio PS. Contrariando a estratégia política do primeiro-ministro, o socialista Carlos César veio esta semana defender que o Governo deve «encontrar um parceiro responsável na Assembleia da República para aprovar o Orçamento e outros diplomas fundamentais», sob pena de o país não ter um plano, mas «uma manta de retalhos sem nexo e um leilão dos seus escassos recursos». E César demarca-se, ainda, das «teorias da conspiração» que abundam no PS sobre a investigação ‘Face Oculta’. Já António Costa, há uma semana na Quadratura do Círculo, mais do que defender Sócrates dos ataques de que estava a ser alvo, preferiu enfatizar a sua confiança no poder judicial: «Estou calmo e tranquilo. Sei que a magistratura actuará com isenções e competência». António Costa e Carlos César, dois potenciais candidatos à sucessão na liderança do PS, começam a distanciar-se de Sócrates. Porque será?

«SOL» de 20 Nov 09