segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O país mais feio da Europa

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Por Maria Filomena Mónica

EM 1989, H. M. Enzenberger, um sociólogo que respeito, veio a Portugal. Eis o que deixou escrito: «As casas mais feias do mundo podem hoje ser encontradas no Minho (…). Surgiu aqui uma arquitectura espontânea, a qual, através da imitação dos outros e depois de si própria, se foi desenvolvendo em espiral, num pesadelo delirante que ultrapassou os próprios modelos originais. (…) Os emigrantes vingaram-se, de uma forma terrível, do país que não havia conseguido alimentá-los». Se exceptuarmos os Açores, isto é verdade.

Este ano fui passar uns dias ao Algarve e ao Douro. Muito do que vi confirma as suas palavras. Aliás, já em anteriores viagens, nomeadamente ao Minho, notara que a província estava a ficar horrenda. Exactamente pelas razões que Enzerberger anunciou. Ao contrário de outros, nunca me pareceu legítima a aspiração de os iluminados imporem regras a quem foi lá para fora ganhar o pão com o suor do seu rosto. Geralmente analfabetos, os emigrantes ficaram seduzidos pela Civilização, pretendendo, no regresso, importá-la, em aspectos que, a nós, nos parecem caricatos: um chalet suíço ficava bem, pensavam, no meio do vale do Cávado. No entanto, mais do que as casas de emigrantes chocou-me a arquitectura da Têxtil Manuel Gonçalves, um cogumelo gigante no meio dos vales minhotos. No que diz respeito a preferências estéticas, os empresários portugueses não estão tão distantes quanto isso dos trabalhadores.

Eis que, em pleno Douro, me deparei com uma adega, cujas linhas arquitectónicas eram de uma beleza extraordinária. Quem a construíra mantivera-se fiel à pedra local, o xisto, e embora arrojado, o edifício enquadrava-se na paisagem local. Indaguei quem seria o proprietário e o arquitecto. O primeiro chama-se Dirk Nieport, o dono da Quinta de Nápoles, e o segundo um austríaco, cujo nome ignoro. A conclusão é obvia: para se ter, ou manter, um país bonito é necessário alguma cultura.

Agosto de 2008