Por Antunes Ferreira
NA QUARTA-FEIRA foi mais um aniversário do 25 de Novembro. Que vivi «por dentro» como jornalista do Jornal Novo. Fui a muito sítio, desde a calçada da Ajuda até ao meu antigo quartel de aspirante a oficial miliciano, o Regimento de Infantaria 1, na Amadora, que então, passados uns bons anos, já se tornara na Regimento de Comandos.
Até estive nele, pois o Sargento Correia, que já era do meu tempo, Janeiro de 1964, estava à porta de armas e quando me viu abriu-a e disse-me para entrar pois eu continuava a ser da casa. O bom homem – era-o, garanto-vos – pensava que eu me ia juntar às forças do Jaime Neves, como o haviam feito, desde a manhã, outros cidadãos.
Um dia, se tiver oportunidade, hei-de contar aqui esta estória com alguma suma de pormenores. E, naturalmente, se o Carlos Medina Ribeiro tiver pachorra para me aturar até então. Mas, o que me trouxe hoje aqui, foi um jantar que decorreu no restaurante Sabores de Goa, precisamente na quarta-feira, onde o palestrante foi o Coronel Otelo Saraiva de Carvalho.
Que é um bom Amigo de há muitos anos, ainda que com opinião política diferente da minha. O que não tem nada que ver com a Amizade. Explico. No restaurante, reúne-se às quintas-feiras uma tertúlia de goeses e adjacentes. Coisa realmente agradável, uns caris a preceito, balchões, vindalhos e outros chatenis. Claro que eu participo.
Uma quarta-feira feira por mês, temos um jantar convívio com palestra e comentários e perguntas e respostas concomitantes. É muito agradável e já por lá estiveram alguns nomes mais sonantes e conversadores. Desta feita, foi o Otelo. Que explicou o que fora a sua participação no 25 de Novembro. Já lá estivera outra vez, a falar sobre os antecedentes que tinham levado ao 25 de Abril.
É um excelente contador de coisas e tem um arquivo cerebral que me deixa sempre de cara à banda. Sabe tudo (ou quase tudo, mas falta-lhe pouco para chegar ao absoluto) sobre esses momentos históricos que se viveram na sequência da Revolução dos Cravos e, no jantar, disse coisas que eu nunca ouvira sobre os cinco anos de prisão que sofrera. Conhece-se a linguagem do operacional: simples, humorada, usando termos que os militares utilizam. E é honesto e frontal. Não foge às perguntas mais diversas.
O relato do que foi a sua actuação no 25 de Novembro foi simplesmente entusiasmante. Naturalmente, a sua versão é… a sua. Mas, penso que noventa e tantos por cento correspondeu à realidade. Por força do que eu próprio fiz enquanto jornalista, não tenho a mínima dúvida em acentuar isto. Tive o privilégio de testemunhar muitos dos acontecimentos, como já disse.
As perguntas e as respostas, inúmeras, deram um retrato fiel do que foi o serão. E o homem que foi o Comandante do COPCON, goste-se ou não se goste do percurso que trilhou, expôs claramente a versão dele. Teria de vir à baila o tema das FP 25 de Abril. Veio. Otelo tentou elucidar o que se passara e qual fora o seu envolvimento no caso. Até chegar ao julgamento de Monsanto e, mesmo, deste.
Gostei, uma vez mais. Divergindo, embora, mas gostei. No final da sessão, quando demos um abraço de despedida, comentou: «E, meu malandro, tu estavas do outro lado, no Jornal Novo…» Estava – e estou, querido Amigo.
NA QUARTA-FEIRA foi mais um aniversário do 25 de Novembro. Que vivi «por dentro» como jornalista do Jornal Novo. Fui a muito sítio, desde a calçada da Ajuda até ao meu antigo quartel de aspirante a oficial miliciano, o Regimento de Infantaria 1, na Amadora, que então, passados uns bons anos, já se tornara na Regimento de Comandos.
Até estive nele, pois o Sargento Correia, que já era do meu tempo, Janeiro de 1964, estava à porta de armas e quando me viu abriu-a e disse-me para entrar pois eu continuava a ser da casa. O bom homem – era-o, garanto-vos – pensava que eu me ia juntar às forças do Jaime Neves, como o haviam feito, desde a manhã, outros cidadãos.
Um dia, se tiver oportunidade, hei-de contar aqui esta estória com alguma suma de pormenores. E, naturalmente, se o Carlos Medina Ribeiro tiver pachorra para me aturar até então. Mas, o que me trouxe hoje aqui, foi um jantar que decorreu no restaurante Sabores de Goa, precisamente na quarta-feira, onde o palestrante foi o Coronel Otelo Saraiva de Carvalho.
Que é um bom Amigo de há muitos anos, ainda que com opinião política diferente da minha. O que não tem nada que ver com a Amizade. Explico. No restaurante, reúne-se às quintas-feiras uma tertúlia de goeses e adjacentes. Coisa realmente agradável, uns caris a preceito, balchões, vindalhos e outros chatenis. Claro que eu participo.
Uma quarta-feira feira por mês, temos um jantar convívio com palestra e comentários e perguntas e respostas concomitantes. É muito agradável e já por lá estiveram alguns nomes mais sonantes e conversadores. Desta feita, foi o Otelo. Que explicou o que fora a sua participação no 25 de Novembro. Já lá estivera outra vez, a falar sobre os antecedentes que tinham levado ao 25 de Abril.
É um excelente contador de coisas e tem um arquivo cerebral que me deixa sempre de cara à banda. Sabe tudo (ou quase tudo, mas falta-lhe pouco para chegar ao absoluto) sobre esses momentos históricos que se viveram na sequência da Revolução dos Cravos e, no jantar, disse coisas que eu nunca ouvira sobre os cinco anos de prisão que sofrera. Conhece-se a linguagem do operacional: simples, humorada, usando termos que os militares utilizam. E é honesto e frontal. Não foge às perguntas mais diversas.
O relato do que foi a sua actuação no 25 de Novembro foi simplesmente entusiasmante. Naturalmente, a sua versão é… a sua. Mas, penso que noventa e tantos por cento correspondeu à realidade. Por força do que eu próprio fiz enquanto jornalista, não tenho a mínima dúvida em acentuar isto. Tive o privilégio de testemunhar muitos dos acontecimentos, como já disse.
As perguntas e as respostas, inúmeras, deram um retrato fiel do que foi o serão. E o homem que foi o Comandante do COPCON, goste-se ou não se goste do percurso que trilhou, expôs claramente a versão dele. Teria de vir à baila o tema das FP 25 de Abril. Veio. Otelo tentou elucidar o que se passara e qual fora o seu envolvimento no caso. Até chegar ao julgamento de Monsanto e, mesmo, deste.
Gostei, uma vez mais. Divergindo, embora, mas gostei. No final da sessão, quando demos um abraço de despedida, comentou: «E, meu malandro, tu estavas do outro lado, no Jornal Novo…» Estava – e estou, querido Amigo.