Por José António Lima
MANUEL ALEGRE acordou agora para a perspectiva de a direita vir a governar o país após as legislativas de 27 de Setembro. E faz questão de se demarcar desde já desse eventual desaire eleitoral-governativo, bem como de lavrar alguns proféticos avisos para utilização pessoal no futuro próximo.
Impõe-se «um sobressalto», escreve. Mas Alegre não percebe o país, vive num mundo político de ficção e do passado. Não percebe essa «esquerda de poder que imita o poder da direita», o PS de Guterres e de Sócrates que ganhou eleições apesar de estar «ideologicamente na defensiva», esse partido que não o entendeu e o derrotou copiosamente quando ele se candidatou à liderança. Não percebe a direita e até vê na líder do PSD «o discurso ultraliberal do Estado mínimo» (em Manuela Ferreira Leite?!...). Não percebe, sequer, a esquerda e pede «uma ruptura de cada uma das esquerdas consigo mesma», uma impossibilidade poética que nem Alegre deve saber bem o que significa. Alegre não está preocupado com os problemas estruturais de Portugal.
Com o endividamento incessante e irresponsável do Estado, das famílias, da banca. Com o peso asfixiante da Administração Pública, que tolhe a economia, limita o progresso e garante artificialmente empregos à custa da produtividade e a bem do clientelismo. Com a dependência dos empresários em relação ao Estado, a rigidez do tecido produtivo e da legislação laboral. Preocupa-se, sim, com os direitos sociais (garantidos na plenitude por um Estado gigantesco e ruinoso) ou com a aprovação das novas leis da IVG e do divórcio.
O que também preocupa Manuel Alegre é a imagem que cultiva de referência unitária da esquerda e a sua candidatura presidencial em 2010. É por isso que não se coíbe de demolir o Executivo de Sócrates, «que não governou à esquerda», e de arrasar o actual PS, que está obrigado a mudar «não só de estilo, mas de pessoas e de políticas».
Confrontado com este diagnóstico fúnebre, o primeiro-ministro e líder do PS respondeu com um sorriso: «Estou de acordo com Manuel Alegre. Primeiro, é preciso mobilizar o PS. Segundo, as eleições serão a disputa entre o PS e a direita, entre duas visões para o Estado social». Este Sócrates, na sua versão humilde e de cabeça baixa, chega a causar pena.
MANUEL ALEGRE acordou agora para a perspectiva de a direita vir a governar o país após as legislativas de 27 de Setembro. E faz questão de se demarcar desde já desse eventual desaire eleitoral-governativo, bem como de lavrar alguns proféticos avisos para utilização pessoal no futuro próximo.
Impõe-se «um sobressalto», escreve. Mas Alegre não percebe o país, vive num mundo político de ficção e do passado. Não percebe essa «esquerda de poder que imita o poder da direita», o PS de Guterres e de Sócrates que ganhou eleições apesar de estar «ideologicamente na defensiva», esse partido que não o entendeu e o derrotou copiosamente quando ele se candidatou à liderança. Não percebe a direita e até vê na líder do PSD «o discurso ultraliberal do Estado mínimo» (em Manuela Ferreira Leite?!...). Não percebe, sequer, a esquerda e pede «uma ruptura de cada uma das esquerdas consigo mesma», uma impossibilidade poética que nem Alegre deve saber bem o que significa. Alegre não está preocupado com os problemas estruturais de Portugal.
Com o endividamento incessante e irresponsável do Estado, das famílias, da banca. Com o peso asfixiante da Administração Pública, que tolhe a economia, limita o progresso e garante artificialmente empregos à custa da produtividade e a bem do clientelismo. Com a dependência dos empresários em relação ao Estado, a rigidez do tecido produtivo e da legislação laboral. Preocupa-se, sim, com os direitos sociais (garantidos na plenitude por um Estado gigantesco e ruinoso) ou com a aprovação das novas leis da IVG e do divórcio.
O que também preocupa Manuel Alegre é a imagem que cultiva de referência unitária da esquerda e a sua candidatura presidencial em 2010. É por isso que não se coíbe de demolir o Executivo de Sócrates, «que não governou à esquerda», e de arrasar o actual PS, que está obrigado a mudar «não só de estilo, mas de pessoas e de políticas».
Confrontado com este diagnóstico fúnebre, o primeiro-ministro e líder do PS respondeu com um sorriso: «Estou de acordo com Manuel Alegre. Primeiro, é preciso mobilizar o PS. Segundo, as eleições serão a disputa entre o PS e a direita, entre duas visões para o Estado social». Este Sócrates, na sua versão humilde e de cabeça baixa, chega a causar pena.
«SOL» de 17 de Julho de 2009