sábado, 25 de julho de 2009

Julho e Agosto, S.A.

Por Antunes Ferreira

É POR ESTA ALTURA DO ANO que adoro estar na minha cidade, Lisboa. Julho e Agosto, S.A. são, para mim, meses obrigatórios na capital. Algarves? Estranjas? Termas? Montanha? Campismo? Que é isso tudo, comparado com a tranquilidade ulissiponense? Faz muito calor por cá? Faz muito mais em Ryade. Até mesmo em Moura. Sem dúvidas de qualquer espécie. Há muita poluição? Não se vá muito mais longe. E em Atenas? O Barreiro não conta.

Refiro-me, sem margem para hesitações, à circulação rodoviário/citadina. Ainda que não só. Mas, para mim que faço parte dos cidadãos membros fundadores do Grupo dos que Abominam Engarrafamentos & Correlativos, GAEC, esta é uma circunstância determinante e incontornável na paixão de ficar em Lisboa quando os outros a abandonam, temporariamente embora.

Quando informo do verdadeiro ódio que tenho contra os congestionamentos do tráfego desta minha menina dos olhos espraiada sobre o Tejo (creio que não estou a plagiar nenhuma letra de fado, mas, se por mero acaso, suspeitas haja, juro que não é essa a minha intenção) tenho de especificar.

Nós, os Portugueses, e em particular, os Lisboetas, não somos grandes militantes do civismo. Há quem diga que a coisa está a melhorar, ainda que devagarinho. Oxalá. Mesmo assim – não somos. O trânsito é, disso, exemplo notório. Senão, vejamos. No que toca aos peões que ainda não são donos de volantes e afins, mas que anseiam por sê-lo, os casos multiplicam-se.

Por mais passadeiras – há quem lhes chame zebras e daí esta adenda para que não restem dúvidas – que existam, ainda que muitas delas esmaecidas apesar das promessas de alva ressurreição pela CML, o pessoal atravessa as ruas, avenidas, praças, pracetas, travessas e mesmo alguns becos, fora delas. Sobretudo, a tentação do risco existe no mais alto grau, quando a travessia faltosa é mesmo ao lado delas. É obra, é força de vontade de não cumprir.

As corridinhas por entre as mais diversas viaturas, desde as de duas rodas até aos TIR são estúpidas e perigosas – mas sabem muito bem. É o fruto proibido, que, realmente é o mais apetecido. E, no caso vertente, corrido. É isso e os semáforos. Que, a bem dizer, não deviam existir. E se eles lá estão é para também ser desrespeitados. Veja-se a afirmação anterior. Uma aceleração na corridela e ala até à outra margem – da rodovia. O chiar dos travões ajuda muito, principalmente a chegar à meta. Neste caso – ao passeio fronteiro.

Quanto aos que possuem motor, nem falar. Ou melhor, já que falamos em semáforos, o mais atraente é ignorá-los e passar mesmo o vermelho. Quando muito, e já a morder, o amarelo. Depois são as tentativas de apanhar os peões, nas passadeiras. Depois, é não dar a aprioridade. Depois é o acelerar nos cruzamentos, porque anda para aí cada maluco que não pára neles. Depois é a ultrapassagem pela direita. Depois, é a Companhia de Seguros e a oficina. E, sobretudo, as Urgências dos hospitais.

É por essas e por outras que eu adoro Lisboa em Julho e Agosto. Será porque as aulas estão na pausa estival, será porque uma carrada de gente saiu a banhos, mesmo que seja para a Fonte da Telha, o Meco, a Ericeira ou a Praia das Maçãs. Não falando em Albufeira, Portimão ou a Isla Cristina. Acapulco, menos, por mor da gripe. Mas, mesmo assim… Cuba e Punta Cana também contam para a classificação.

Donde – viva Julho! Viva Agosto! Já entenderam o porquê da minha predilecção. Ah, na selva do tráfego, esqueci-me de um dito da nossa infância: nada de confusões; as ruas para os automóveis, os passeios para os peões. Que, hoje, tem de ser actualizado. Nada de confusões: passeios para os automóveis e ruas para os peões. Boas férias – em Lisboa.