Por Antunes Ferreira
APARENTEMENTE a semana ia andando aos solavancos o que nada tem de especial no País que somos. É certo que o caso tripartido PT/TVI/PSD em que o Presidente da República e o Governo estavam metidos viera agitar um tanto as águas. De igual modo a constituição de Manuel Dias Loureiro como arguido também tivera o picante q.b.
Mas, de repente, os Portugueses – que já não o deviam fazer – espantaram-se com os corninhos do ministro Manuel Pinho. Não dele, esclareço, mas que pretendeu pôr ao deputado comunista Bernardino Soares. A foto insólita, anedótica e inconcebível de um ministro malcriado, saiu nas primeiras páginas dos jornais espanhóis, pelo menos até esta quinta-feira, 2 de Julho, em que escrevo esta crónica. Mas, pelo andar da carruagem, deverá já ter começado a correr o Mundo.
É o mesmo governante da papa Maizena, bem como é o que referiu que a crise já tinha passado – em Portugal, claro, porque no resto do orbe terráqueo não se notara nada, bem pelo contrário. E muitas outras inconveniências a que, agora, se usa chamar gaffes. Pinho pediu, naturalmente, a demissão e Sócrates, que o zurzira em plena sessão parlamentar, aceitou-a de imediato e fez avançar Teixeira dos Santos para a pasta da Economia e da Inovação, mantendo as Finanças e o cargo de Ministro de Estado. O portuense é, agora, um superministro.
Manuel Pinho veio, posteriormente declarar que «naturalmente» se arrependia, que é «uma pessoa educada» mas que «há certas situações que são muito difíceis de gerir quando alguém sente a sua honra atingida». No seu entender, a sua extemporânea e infeliz actuação, verificara-se porque o deputado do PCP estava a fazer «graçolas».
Pinho «explicou» ainda que ficou sobretudo ofendido com o facto de Bernardino Soares, num aparte, ter dito que ele tinha estado em Aljustrel «a passar um cheque» à equipa de futebol, sobretudo quando uma pessoa passa «noites sem dormir só para salvar postos de trabalho». Ali, disse ainda, os trabalhadores das minas «mostraram-se muito agradecidos», mas o PCP «não desculpa o sucesso que o Governo teve numa região que considera sua».
Estava-se nisto na madrugada de sexta-feira quando se concretizou o rebentamento da bomba que são as eleições do Benfica. Outro par de cornos, desta vez postos pelo demissionário presidente da Assembleia Geral dos da Luz, Manuel Vilarinho, ao Conselho Superior de Magistratura (CSM) que veio esclarecer a decisão do juiz do Tribunal Cível de Lisboa que admitiu a providência cautelar destinada a suspender o acto eleitoral dos encarnados.
Outra foi a leitura de Manuel Vilarinho, que manteve a lista de Luís Filipe Vieira nas eleições de hoje: o presidente da Assembleia-Geral do Benfica considera que a não há qualquer ilegalidade na lista do presidente demissionário, que se recandidata ao lugar. Para aumentar a confusão, uma fonte oficial do CSM, órgão máximo dos juízes, disse ontem ao DN que a providência cautelar admitida pelo Tribunal Cível de Lisboa suspende a lista de Vieira. «Foi entregue uma providência cautelar que foi aceite. Sendo assim, decorre da lei que o acto que se pretende impugnar está suspenso até à decisão final».
Se uma semana com um par de cornos já agita o pessoal e a atitude do ministro Pinho era suficiente para agitar a malta neste tempo de crise, o que dizer da segunda armação córnea? Só posso retirar a conclusão de que ela ainda veio dar mais salero a estes sete dias. Falando de cornos, há forçosamente que terminar com salero. Y olé! Ou de maridos enganados, está bem de ver…