quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

«Dito & Feito»

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Por José António Lima

JOSÉ SÓCRATES
passou as duas últimas semanas a acusar os partidos da Oposição de «uma atitude desleal e irresponsável», o ministro da Propaganda alocado à Defesa, Santos Silva, clama que «a Oposição está a fazer chantagem sobre o país», o inevitável deputado Ricardo Rodrigues dramatiza: «Estão a esticar a corda para que o PS diga que não pode governar». Como se percebe, estavam mal habituados com quatro anos e meio de maioria absoluta. E ainda não se conformaram.

A questão é elementar – se Sócrates quer governabilidade, de duas, uma: ou tinha feito uma aliança parlamentar, estável e para quatro anos, com outro(s) partido(s); ou dedica-se, com imensa paciência e muito pouca arrogância (o que, reconheça-se, é difícil para a sua natureza), a este tipo de pesca à linha de apoios parlamentares, caso a caso. António Guterres já passou pelo mesmo.

Sócrates devia ter percebido, no primeiro minuto da noite em que perdeu a maioria absoluta, que teria – e terá sempre – que negociar. Fosse negociação a dois, à mesa de uma aliança bipartidária, seja a três, a quatro ou a cinco (incluindo o PSD-Madeira...) nos bastidores do Parlamento. Abriu-se um novo ciclo. É a vida, como diria Guterres. Habitue-se.

Não nos venha é com esta lamúria constante da ingovernabilidade e este choradinho de que os partidos da Oposição querem governar por ele. É assim em toda a Europa: os Governos minoritários, como o seu, são obrigados a fazer alianças, estáveis ou pontuais, a ceder em negociações, de parte a parte, para aprovarem os seus programas propostas. Adapte-se.

Sócrates e o PS poderão alimentar o desejo oculto de provocar eleições antecipadas já no final da Primavera de 2010. Mas essa é uma miragem que dificilmente terá condições políticas para se materializar – além de que o PS ficaria, porventura, com o desgaste actual da imagem do primeiro-ministro e do seu Governo recauchutado, ainda mais distante da maioria absoluta.

Não sendo, pois, previsível a oportunidade de eleições antecipadas, pelo menos, antes do final de 2011, a verdade é que ninguém será capaz de aturar mais dois anos de lamechice de Sócrates e do PS, desta encenação trágico-política. Que tal começar a governar?
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«Sol» de 18 Dez 09