quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O Natal na empresa


Por João Duque

Dois jovens universitários encontraram-se nos bancos da faculdade em Outubro de um ano qualquer.

MIGUEL, ALTO E BELO, dava brilho e vida em tudo o que tocava. António ficava sempre na sombra. Trabalhava muito mais, mas não tinha nem o rasgo nem o brilhantismo do colega.

Nos exames Miguel obtinha sempre notas elevadas, concluindo sempre mais depressa e melhor, os exercícios ou os trabalhos. António só alcançava notas modestas. E mesmo com livros ou materiais iguais aos do Miguel, nunca seria capaz de tanta "categoria" da qual se gabava o Miguel.

Miguel tinha sucesso, tinha dinheiro, tinha namoradas bonitas e era bom aluno. Não tinha muito tempo para olhar em redor, mas isso também não era para ele importante.

Com o passar dos anos mais avançavam no curso e mais se afastavam as médias. Miguel era agora reconhecido pelos professores como um brilhante e promissor economista enquanto António parecia condenado a um lugar intermédio, com sorte, numa empresa estável.

Um dia, porém, Miguel teve uma aflição. Depois de um jogo de ténis em que esmagou o adversário (mais uma vez vencedor), ao entrar no balneário verificou que lhe tinham roubado o saco com o livro de estudo e todos os apontamentos. Os seus apontamentos! E agora? Acima de tudo estava a reputação de aluno brilhante e essa, ele não podia pôr em causa.

Ligou ao António pedindo-lhe ajuda, mas este negou-lha não cedendo nem os apontamentos, nem devolvendo o livro à Biblioteca para Miguel o requisitar. Apesar disso, Miguel tirou mais um 17 e António o 13 do costume.

Acabaram com notas diversas. António mal celebrou, acabrunhado no meio dos colegas, pelo seu desempenho modesto. Miguel era chamado aos palcos. Melhor aluno, mais celebrado e desejado pelas melhores empresas (e raparigas).

Anos mais tarde encontraram-se na mesma empresa onde António trabalhara desde sempre, sendo um antigo director da casa. Miguel, recém-chegado à direcção da firma, preparava-se para ascender rapidamente à administração. António apesar de mediano, sentia que tinha o direito a aspirar ao topo. Casado e com 3 filhos a estudarem, viu a mulher ficar desempregada em resultado da crise. Miguel continuava casado com uma executiva de sucesso, mas de quem não tinha filhos.

Três meses após a entrada de Miguel na empresa, soube-se que a empresa tinha "gorduras" para queimar, comunicando-se a extinção da direcção do António que, amargurado, percebeu que era o seu fim.

Miguel, sempre o mesmo, sentou-se na secretária e escreveu uma carta à administração. Saiu do gabinete, entrou na sala do presidente e depositou-lhe a carta nas mãos: uma carta de renúncia ao cargo. António ficou na empresa e ocupou o lugar do Miguel.

Era Natal de um ano qualquer, numa história que não é verdadeira, é apenas um conto de Natal.

Bom Natal!
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«DE» de 17 Dez 09