Por Nuno Crato
NA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO TEXAS, em Huntsville, o professor John M. De Castro dedica-se ao estudo dos hábitos alimentares. Ao longo dos anos tem produzido um número impressionante de trabalhos sobre os condicionantes da dieta humana. Recruta voluntários a quem pede para anotarem durante semanas tudo o que comeram, quando comeram, onde comeram e como comeram. Estuda depois os dados com métodos estatísticos rigorosos.
Há tempos, lendo um interessante livro de Christian Camara e Claudine Gaston (Pourquoi les marmottes ne fêtent pas le nouvel an?) reparei que estes dois divulgadores científicos se divertiam a imaginar como comeria o Doutor De Castro e como seria o seu dia-a-dia. Talvez ele se distraísse pouco, fizesse uma vida solitária e andasse tristonho pelas ruas. Pelo menos, segundo os seus artigos, é a melhor maneira de não comer demais.
Fui ler alguns estudos do insigne psicólogo. Um dos mais citados analisa os hábitos alimentares de gémeos monozigóticos que vivem separados. Conclui que os genes determinam quase metade das características alimentares das pessoas, sendo a outra parte derivada do ambiente. Em alguns aspectos a influência é menor. O excesso de consumo, em particular, parece ser quase todo derivado da permissividade no ambiente familiar de infância. Mas a maneira como esse excesso se repercute na obesidade advém sobretudo de factores genéticos.
Noutro estudo, o psicólogo texano mostra como é importante tomar um bom pequeno almoço, almoçar razoavelmente e comer pouco ao jantar. Parece sensato. Mas quando o Doutor De Castro estuda o ambiente em que se tomam as refeições, as coisas tornam-se pretas. Os exageros na comida estão associados com o tempo que se passa à mesa e com o número de convivas. Em média, quando estamos com um comensal comemos mais 33% do que quando estamos sozinhos. Se formos três, cada um de nós come 47% mais; se formos quatro, 58%, e por aí adiante. Não há dúvida! O Doutor De Castro passou a consoada sozinho e vai entrar no Ano Novo na mesma companhia.
Suspeito também que o seu “réveillon” se passe em silêncio. Os seus estudos concluíram que a música de fundo propicia um aumento de quase 20% de calorias consumidas e de 30% de bebidas. Ainda mais assustador é o que acontece com a luz. As suas investigações têm concluído que uma boa iluminação, natural ou artificial, talvez por facilitar um ambiente agradável, propicia um repasto saturado. Imagino que o Doutor De Castro passe a noite de Ano Novo às escuras.
Fiquei definitivamente assustado quando li um artigo que ele escreveu em 1993. Mostra uma relação positiva entre a fase da Lua e o excesso alimentar. A correlação não é grande (cerca de 8%), mas é positiva. Pensei que o melhor seria virar as costas para a Lua e fechar as janelas. Mas o seu estudo, na sequência de outros que indicam a existência de ritmos biológicos alinhados com o ciclo lunar, conclui que a influência é inevitável, embora moderada, e que não depende da exposição à Lua. Assustado, fui ver o almanaque e confirmei as minhas piores premonições. A lua cheia acontece este 31 de Dezembro.
Pensei melhor. Este fim de ano, pelo menos, vou-me tentar esquecer do Doutor De Castro. Talvez me relembre dos seus conselhos já entrado em 2010.
NA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO TEXAS, em Huntsville, o professor John M. De Castro dedica-se ao estudo dos hábitos alimentares. Ao longo dos anos tem produzido um número impressionante de trabalhos sobre os condicionantes da dieta humana. Recruta voluntários a quem pede para anotarem durante semanas tudo o que comeram, quando comeram, onde comeram e como comeram. Estuda depois os dados com métodos estatísticos rigorosos.
Há tempos, lendo um interessante livro de Christian Camara e Claudine Gaston (Pourquoi les marmottes ne fêtent pas le nouvel an?) reparei que estes dois divulgadores científicos se divertiam a imaginar como comeria o Doutor De Castro e como seria o seu dia-a-dia. Talvez ele se distraísse pouco, fizesse uma vida solitária e andasse tristonho pelas ruas. Pelo menos, segundo os seus artigos, é a melhor maneira de não comer demais.
Fui ler alguns estudos do insigne psicólogo. Um dos mais citados analisa os hábitos alimentares de gémeos monozigóticos que vivem separados. Conclui que os genes determinam quase metade das características alimentares das pessoas, sendo a outra parte derivada do ambiente. Em alguns aspectos a influência é menor. O excesso de consumo, em particular, parece ser quase todo derivado da permissividade no ambiente familiar de infância. Mas a maneira como esse excesso se repercute na obesidade advém sobretudo de factores genéticos.
Noutro estudo, o psicólogo texano mostra como é importante tomar um bom pequeno almoço, almoçar razoavelmente e comer pouco ao jantar. Parece sensato. Mas quando o Doutor De Castro estuda o ambiente em que se tomam as refeições, as coisas tornam-se pretas. Os exageros na comida estão associados com o tempo que se passa à mesa e com o número de convivas. Em média, quando estamos com um comensal comemos mais 33% do que quando estamos sozinhos. Se formos três, cada um de nós come 47% mais; se formos quatro, 58%, e por aí adiante. Não há dúvida! O Doutor De Castro passou a consoada sozinho e vai entrar no Ano Novo na mesma companhia.
Suspeito também que o seu “réveillon” se passe em silêncio. Os seus estudos concluíram que a música de fundo propicia um aumento de quase 20% de calorias consumidas e de 30% de bebidas. Ainda mais assustador é o que acontece com a luz. As suas investigações têm concluído que uma boa iluminação, natural ou artificial, talvez por facilitar um ambiente agradável, propicia um repasto saturado. Imagino que o Doutor De Castro passe a noite de Ano Novo às escuras.
Fiquei definitivamente assustado quando li um artigo que ele escreveu em 1993. Mostra uma relação positiva entre a fase da Lua e o excesso alimentar. A correlação não é grande (cerca de 8%), mas é positiva. Pensei que o melhor seria virar as costas para a Lua e fechar as janelas. Mas o seu estudo, na sequência de outros que indicam a existência de ritmos biológicos alinhados com o ciclo lunar, conclui que a influência é inevitável, embora moderada, e que não depende da exposição à Lua. Assustado, fui ver o almanaque e confirmei as minhas piores premonições. A lua cheia acontece este 31 de Dezembro.
Pensei melhor. Este fim de ano, pelo menos, vou-me tentar esquecer do Doutor De Castro. Talvez me relembre dos seus conselhos já entrado em 2010.
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 27 de Dezembro de 2009