Por João Duque
ACABARAM DE SAIR as estatísticas do desemprego europeu publicadas pelo Eurostat. Todos os portugueses se fixaram nas estatísticas de Portugal, as quais apresentam a horrível confirmação de um indicador de dois dígitos para Outubro (10,2%) depois de um Setembro também ele já superior à marca mítica dos 10%. Estes números acima da taxa média europeia (9,3% para a Europa dos 27 ou 9,8% para a Europa do Euro) assustam-nos, e preocupam muito quem não vê bem qualquer ponta de entusiasmo ou caminho de inversão, tirando umas intenções governamentais de fazer obra pública capaz de absorver ou, pelo menos, não deixar agravar este indicador.
Mas foi ao ler este relatório que pressenti que alguma coisa vem aí.
Se consideram maus os indicadores do desemprego para Portugal, então leiam o que se diz sobre a taxa de desemprego para a faixa etária abaixo dos 25 anos de idade: 18,9% para Portugal, mas mais medonho ainda, 42,9% para Espanha!
Meu Deus! O que é que nós estamos a fazer? Como vão ser estes jovens em adultos? Como é que eles vão lá chegar e em que estado?
Já imaginaram o que é chegarem a um qualquer encontro de jovens (um concerto musical por exemplo) e saberem que a metade dos que não estão a estudar está desempregada? De que vivem? Como se ocupam? Quem os sustenta? Que vícios vão criar? Que hábitos de trabalho vão ganhar para a vida?
Tenho medo, muito medo, das respostas que posso ter a estas perguntas. E sei que o que de mau se enraizar na juventude espanhola vai contagiar-se à portuguesa, como fogo em palha seca.
Quando estive na tropa, um certo dia o comandante de pelotão mandou-me dar Ordem Unida (ensinar a rapaziada a marchar) em plena tarde de um Agosto ardente, numa parada de alcatrão a fumegar debaixo das chispas de um sol abrasador. A razão dele foi simples: "- Quando 40 homens estão para aí, ociosos, começam a dizer mal da tropa!"
Dei ordem de "- Está a reunir!" seguida de "- Em frente, marche..." e assim se calaram aqueles jovens, quase da minha idade, e que, de facto, diziam mal da tropa como eu... Todos nos calámos e assim ocupámos mais uma hora das nossas vidas sem "dizer mal da tropa".
Nas ruas das cidades espanholas não há comandantes de companhia para os mandar perfilar, e marchar para a frente e para trás. Há perigosos ‘drug dealers', há entusiastas fanáticos que facilmente vendem a ira, a raiva e o entusiasmante incentivo à destruição de quem não tem mais do que a mesada dos pais para viver, mas já tem a vergonha de uma idade de querer e não ter para fazer.
Tenho medo e penso que vem aí coisa. Só vos digo: "- Agarrem-se!"...
«DE» de 3 Dez 09
Quando estamos perto de sermos atingidos por um abalo o grito de alerta comum é: “- Agarrem-se!”, senão “- Fujam!”
ACABARAM DE SAIR as estatísticas do desemprego europeu publicadas pelo Eurostat. Todos os portugueses se fixaram nas estatísticas de Portugal, as quais apresentam a horrível confirmação de um indicador de dois dígitos para Outubro (10,2%) depois de um Setembro também ele já superior à marca mítica dos 10%. Estes números acima da taxa média europeia (9,3% para a Europa dos 27 ou 9,8% para a Europa do Euro) assustam-nos, e preocupam muito quem não vê bem qualquer ponta de entusiasmo ou caminho de inversão, tirando umas intenções governamentais de fazer obra pública capaz de absorver ou, pelo menos, não deixar agravar este indicador.
Mas foi ao ler este relatório que pressenti que alguma coisa vem aí.
Se consideram maus os indicadores do desemprego para Portugal, então leiam o que se diz sobre a taxa de desemprego para a faixa etária abaixo dos 25 anos de idade: 18,9% para Portugal, mas mais medonho ainda, 42,9% para Espanha!
Meu Deus! O que é que nós estamos a fazer? Como vão ser estes jovens em adultos? Como é que eles vão lá chegar e em que estado?
Já imaginaram o que é chegarem a um qualquer encontro de jovens (um concerto musical por exemplo) e saberem que a metade dos que não estão a estudar está desempregada? De que vivem? Como se ocupam? Quem os sustenta? Que vícios vão criar? Que hábitos de trabalho vão ganhar para a vida?
Tenho medo, muito medo, das respostas que posso ter a estas perguntas. E sei que o que de mau se enraizar na juventude espanhola vai contagiar-se à portuguesa, como fogo em palha seca.
Quando estive na tropa, um certo dia o comandante de pelotão mandou-me dar Ordem Unida (ensinar a rapaziada a marchar) em plena tarde de um Agosto ardente, numa parada de alcatrão a fumegar debaixo das chispas de um sol abrasador. A razão dele foi simples: "- Quando 40 homens estão para aí, ociosos, começam a dizer mal da tropa!"
Dei ordem de "- Está a reunir!" seguida de "- Em frente, marche..." e assim se calaram aqueles jovens, quase da minha idade, e que, de facto, diziam mal da tropa como eu... Todos nos calámos e assim ocupámos mais uma hora das nossas vidas sem "dizer mal da tropa".
Nas ruas das cidades espanholas não há comandantes de companhia para os mandar perfilar, e marchar para a frente e para trás. Há perigosos ‘drug dealers', há entusiastas fanáticos que facilmente vendem a ira, a raiva e o entusiasmante incentivo à destruição de quem não tem mais do que a mesada dos pais para viver, mas já tem a vergonha de uma idade de querer e não ter para fazer.
Tenho medo e penso que vem aí coisa. Só vos digo: "- Agarrem-se!"...
«DE» de 3 Dez 09