domingo, 13 de dezembro de 2009

Palhaços

Por João Paulo Guerra

O Sindicato dos Palhaços reuniu em Fevereiro passado o seu Parlamento Mundial, em Dresden, na Alemanha, e não consta que ao longo dos trabalhos os participantes se tenham insultado uns aos outros chamando-se deputados disto ou deputados daquilo.

E CONSTITUIRIA o termo deputado um insulto? De modo algum. O termo deputado é tão pouco ou nada insultuoso como os termos contramestre, engenheiro, guia-intérprete, terapeuta ocupacional, higienista oral ou palhaço. Mas claro que ninguém ignora que o termo palhaço é frequentemente usado com intenção pejorativa. Trata-se, possivelmente, de uma reminiscência medieval, que remete para tempos em que os cómicos procediam da ralé e para lá retrocediam.

E aqui entra mais uma diferença, para pior, da sociedade política portuguesa para a comunidade mundial dos palhaços, ricos ou pobres não vem para o caso. É que a jurisprudência portuguesa, nos termos de um acórdão da Relação do Porto, de Janeiro de 2008, ilibou a expressão "és um palhaço" de qualquer sentido injurioso. Nesta coluna fez-se referência e salientou-se o mérito de tão douta como oportuna sentença. Mas a sociedade política portuguesa não anda a par da jurisprudência e ainda usa o termo palhaço como sinónimo de títere, bonifrate ou fanfarrão. O dr. Jardim, por exemplo, processou o cronista Daniel Oliveira por considerar insultuoso o epíteto palhaço.

Munidos da jurisprudência, no hemiciclo ou nas comissões, os parlamentares que se tratem por palhaço, como se poderiam chamar equilibrista, trapezista, malabarista, contorcionista, transformista ou meramente deputado. Mas que não esqueçam a questão verdadeiramente essencial que é o direito dos palhaços propriamente ditos à indignação perante certas comparações.

«DE» de 11 Dez 09