quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz Década Nova

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Por João Duque

HÁ UMA MANIA, ERRADA, de considerar que as décadas se iniciam no dia 1 de Janeiro de um ano de último dígito 0. Ah, porque é que é errado? Porque não havendo ano zero, a primeira década terá começado no dia 1 de Janeiro do ano 1 e acabado no dia 31 de Dezembro do ano 10. E por aí adiante… Mas porque todos insistem nessa ideia, desisto, e vou eu próprio alimentá-la falando da Nova Década.

Sabemos como Portugal está. Se todos percebemos, se tivéssemos juízo, ou nos íamos embora deixando o país só, com as suas dívidas para que os credores o viessem pilhar levando o que entendessem, ou atacávamos os problemas de frente e tomávamos decisões corajosas: baixávamos salários (como os irlandeses), aumentávamos impostos (como os Gregos), atrasávamos a data para a reforma ou reduzíamos o seu valor (ou ambas as coisas – como os Britânicos), reduzíamos os benefícios de ordem social, etc., etc., etc. Mas isso, ninguém quer e por isso ninguém vai ter coragem de fazer nem de propor em eleições que queira seriamente vencer…

Também podemos tirar dos dedos os últimos anéis e vendê-los: as reservas de ouro do Banco de Portugal (se o BCE nos deixasse), as últimas participações financeiras nas empresas já privatizadas, privatizávamos os últimos redutos (CGD, ANA, …) os solos públicos, as Berlengas, a Ilha de Faro, as praias… Claro que isso também ninguém quer.

Mas a minha ideia é que ainda vão surgir algumas “tábuas de salvação”, não porque façamos alguma coisa por isso, mas porque alguns irão fazê-lo. Explico.

O que é que fizemos nós para termos o direito a vender o espectro de emissões de rádio, de televisão, etc? Nada. A canseira de investir, estudar e descobrir, produzir equipamentos e vendê-los foi feito pelos outros, mas logo o nosso Estado vem e diz: “se querem emitir aqui, têm de se licenciar, uma vez que o “espaço hertziano” é público”!

Por isso, uma boa saída para a amortização de alguma desta dívida brutal que amontoamos, poderá estar nos mercados que estão para nascer e que nem sonhamos. Alguém pensaria há 100 anos que se poderia retalhar o “espaço” dos domínios da net? Ou retalhar o “espaço” de frequências de telemóveis? Pois eu estou convencido que dentro de 10 anos, dada a velocidade de desenvolvimento tecnológico, novos “espaços” se desdobrarão à frente do Estado português para a partir daí se atarefar na venda, por grosso ou a retalho, desses “espaços” que hoje ainda não sou capaz de dizer quais são, mas estou seguro que eles vão aparecer… E, agora o mais bonito, não teremos de mexer uma palha. “Eles” vão trazer-nos de bandeja o que nós queremos: “espaços” para venda…

A questão está em saber: se terão valor e se conseguimos sobreviver para lá chegar. A crise Grega vai atirar-nos rapidamente para a fogueira do escrutínio apurado dos mercados de dívida e, ou o novo Orçamento traz medidas draconianas, ou vamos fazer companhia aos gregos, mas não é na final do Europeu …

Um desejo: que a Nova Década seja cheia dos inversos da Velha Década que acabamos de terminar.

«Expresso» de 24 Dez 09