Por Maria Filomena Mónica
EM PARTE POR JAMAIS ter tido dinheiro suficiente para investir, sou uma analfabeta financeira. Até 1995, quando a minha mãe adoeceu, a poupança era a última das minhas preocupações. Aquilo a que assisti levou-me a mudar de rumo, tendo começado então a colocar, numa conta a prazo, as migalhas arrancadas à despesa quotidiana. Anteontem, fui ao banco, a fim de averiguar se o meu dinheiro corria risco. A resposta foi negativa. Daí a acreditar vai um passo de gigante.
Perante a confusão, decidi reler Adam Smith e Karl Marx, dois autores geralmente incompreendidos: nem um é o apologista acrítico do mercado que se proclama nem o outro o panfletário delirante que se imagina. Em «A Riqueza das Nações» (1776), Smith ousou proclamar que o comércio não era desvantajoso. Segundo ele, uma sociedade em que os indivíduos fossem livres de tratar dos seus interesses, sem ter, por detrás, um poder centralizado, produziria uma ordem susceptível de elevar o nível de vida da população. O egoísmo era um vício, mas, em muitos casos, a «mão invisível» encarregar-se-ia de transformar o mal privado numa pública virtude. No fundo, o que A. Smith estava a tentar era a dar cabo dos monopólios, uma causa, então ou agora, insusceptível de ser apreciada pelos poderosos. A ideia de que desejava abolir o Estado é falsa: o que pretendia era retirar o poder político da esfera da economia, o que não implicava que o mesmo deixasse de assumir funções noutras áreas.
Igualmente interessante é reler O Manifesto Comunista, de 1847. Todos sabemos que algumas das teses ali expostas, nomeadamente a da pauperização do proletariado, estão erradas, mas é curioso ver a forma como Marx fala da burguesia como uma força revolucionária. Sobre o capitalismo, escrevia: «Tudo o que é sólido se derrete no ar», alertando para o facto de que «a necessidade de um mercado cada vez mais vasto para os seus produtos fazer com que a burguesia penetre em todo o globo». Aquilo a que estamos a assistir não é à morte do capitalismo, mas à da variedade tóxica que, nos últimos vinte anos, se desenvolveu nos EUA.
Outubro de 2008
EM PARTE POR JAMAIS ter tido dinheiro suficiente para investir, sou uma analfabeta financeira. Até 1995, quando a minha mãe adoeceu, a poupança era a última das minhas preocupações. Aquilo a que assisti levou-me a mudar de rumo, tendo começado então a colocar, numa conta a prazo, as migalhas arrancadas à despesa quotidiana. Anteontem, fui ao banco, a fim de averiguar se o meu dinheiro corria risco. A resposta foi negativa. Daí a acreditar vai um passo de gigante.
Perante a confusão, decidi reler Adam Smith e Karl Marx, dois autores geralmente incompreendidos: nem um é o apologista acrítico do mercado que se proclama nem o outro o panfletário delirante que se imagina. Em «A Riqueza das Nações» (1776), Smith ousou proclamar que o comércio não era desvantajoso. Segundo ele, uma sociedade em que os indivíduos fossem livres de tratar dos seus interesses, sem ter, por detrás, um poder centralizado, produziria uma ordem susceptível de elevar o nível de vida da população. O egoísmo era um vício, mas, em muitos casos, a «mão invisível» encarregar-se-ia de transformar o mal privado numa pública virtude. No fundo, o que A. Smith estava a tentar era a dar cabo dos monopólios, uma causa, então ou agora, insusceptível de ser apreciada pelos poderosos. A ideia de que desejava abolir o Estado é falsa: o que pretendia era retirar o poder político da esfera da economia, o que não implicava que o mesmo deixasse de assumir funções noutras áreas.
Igualmente interessante é reler O Manifesto Comunista, de 1847. Todos sabemos que algumas das teses ali expostas, nomeadamente a da pauperização do proletariado, estão erradas, mas é curioso ver a forma como Marx fala da burguesia como uma força revolucionária. Sobre o capitalismo, escrevia: «Tudo o que é sólido se derrete no ar», alertando para o facto de que «a necessidade de um mercado cada vez mais vasto para os seus produtos fazer com que a burguesia penetre em todo o globo». Aquilo a que estamos a assistir não é à morte do capitalismo, mas à da variedade tóxica que, nos últimos vinte anos, se desenvolveu nos EUA.