sexta-feira, 5 de novembro de 2010

«Dito & Feito»

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Por José António Lima

O MINISTRO Teixeira dos Santos saiu pouco satisfeito do acordo que rubricou com a delegação social-democrata chefiada por Eduardo Catroga.

Apareceu a resmungar que «vai ser necessário adoptar medidas adicionais para atenuar o custo de 500 milhões de euros deste acordo» e a queixar-se de que o PSD queria «dourar a pílula». Estranha-se o tom rezingão do ministro. Não tanto por confirmar a ideia de que tanto ele como Sócrates apostavam mais num desacordo do que num acordo. Mas por duas outras razões.

A primeira é a de que os 500 milhões representam uma percentagem ínfima no despesismo de milhares de milhões do aparelho do Estado (bastando cortar um pouco nos excessos dos gabinetes governamentais, nos custos exorbitantes com juristas e advogados, nos gastos com empresas amigas de assessoria de comunicação ou de promoção de eventos... e por aí fora). E 500 milhões não devem ser preocupação para um ministro que fala com a maior das ligeirezas de uma dívida imprevista de 580 milhões da empresa Estradas de Portugal ou de uma derrapagem de 1.700 ou 1.800 milhões no OE de 2010.

A segunda razão é o facto de Sócrates e Teixeira dos Santos se terem especializado em múltiplos expedientes para espoliar aos contribuintes os milhões que se viram obrigados a cortar, à pressa e contrafeitos, na despesa do Estado. Eis três exemplos ilustrativos. O Governo conta ir buscar 100 milhões de euros aos benefícios fiscais, cortados à sorrelfa, das instituições religiosas (excepto a Igreja Católica) e de solidariedade social. Aumenta, furtivamente, em 33 milhões de euros a taxa de audiovisual que todos os portugueses pagam à RTP (em muitos casos, sem sequer o perceberem) na factura mensal de electricidade. Para aliviar o orçamento do Ministério da Cultura, obriga as televisões, empresas de telemóveis e de acesso à internet a esportularem 80 milhões de euros numa taxa para o cinema. Vale tudo...

Será muito 500 milhões para um Governo que se comporta como um senhor feudal, reduzindo salários e aumentando impostos indiscriminadamente, e que nas horas vagas se transforma em salteador de estrada, a extorquir mais dinheiro aos incautos com taxas e outras artimanhas? Pelo que parece, são apenas trocos.
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«SOL» de 5 Nov 10