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.Por Baptista-Bastos
PODEM NÃO ESTAR de acordo, e ainda bem!; podem, por vezes, ser mal-educados e até grosseiros, quando ocultam a cobardia no anonimato - mesmo assim, desde que inteligentes, vale a pena lê-los. Ao longo de uma vida de combates e causas tenho sido objecto de comentários azedos e indecorosos. Não me afectam. Já o disse e escrevi em amiudadas ocasiões. Evidentemente, as injúrias ficam com quem as pratica e, acaso esses correspondentes fossem decentes e dignos, escrever-me-iam directamente. O meu correio electrónico está aposto no final das crónicas que subscrevo. E tenho por costume responder a toda a gente.
Mas há políticos, comentadores, analistas, jornalistas que são objecto de frases escabrosas, comportando insultos pessoais. Há quem não aguente esta onda de canalhice. Ainda há tempos, uma jornalista conhecida solicitou, à direcção do diário onde trabalha, a supressão dos "comentários" que leitores desbocados faziam electronicamente. Eram pequenos textos absolutamente repugnantes. Os artigos dessa jornalista atingiam os objectivos a que se propusera: zurzir nos lombos de reaccionários, de biltres e de safados. Estes reagiam com a cobardia de quem não dá a cara.
O escrevinhador anónimo não fornece, somente, a dimensão do infame. Trata-se de um espírito doente, da ordem da psiquiatria, a que os psiquiatras atribuem uma catalogação específica. O correio electrónico quase se transformou num confessionário de medrosos (e de merdosos), habitualmente ressentidos, de Direita, antigos legionários e filhos e netos de pequenos fascistas de trazer por casa.
Há artigos e ensaios que explicam estas situações. A circunstância de não haver regulação permite que indivíduos caluniem todos aqueles que entendam. Geralmente, pessoas de quem não gostam, por este ou aquele motivo, por esta ou por aquela razão. Frequentemente, essas aleivosias seguem a dignidade do visado, pegam-se-lhe como lapas e prejudicam, profundamente, a pessoa e as famílias.
Tenho para mim que a gravidade da questão reside, essencialmente, aí. E como sou absolutamente contra qualquer espécie de censura, prefiro o carácter fraudulento e desprezível do canalha anónimo do que a redução do que ele diz a uma mordaça.
A existência, e a prática, do leitor inteligente permitem que a discussão atinja níveis elevados. No caso vertente, há correspondentes (não me refiro a blogues, bem entendido) cujo grau cívico, intelectual e cultural é tão baixo que repugna. Não é de estranhar. O nível de leitura dos portugueses é baixíssimo; a escolaridade obrigatória não é nada obrigatória; os seus interesses limitam-se ao conhecimento dos nomes dos futebolistas, aos clubes a que pertencem ou a que vão pertencer; e a ter comportamentos selváticos, antes, durante e depois de certos desafios.
Digamos, sem rebuço, que o português comum ignora o que se passa em Portugal nos domínios da política, da arte, da literatura, da ciência. O programa da RTP-1, "Quem quer ser milionário" é elucidativo. Às perguntas mais rudimentares sobre História, Geografia, os concorrentes respondem com autênticas bojardas. E muitos deles possuem cursos superiores!
Na quarta-feira, p.p., o "Público" noticiava que jovens, dos mais qualificados que até hoje existiram no nosso País, estão em debandada para o estrangeiro. Não são nenhum daqueles que aparecem no tal programa, certamente. Mas a imagem de Portugal é-nos também devolvida pela Imprensa que temos. Um Imprensa acrítica, preguiçosa, notoriamente tendenciosa e sempre, ou quase sempre, favorecedora de quem está no poder - ou para lá caminha. O contra-senso é que, entre os mais novos, há excelentes jornalistas… e péssimo jornalismo.
Há dias, o meu velho camarada Germano Silva, grande jornalista e admirável historiador da cidade do Porto, telefonou-me. Discreteámos, levemente, sobre as coisas gerais e sobre o jornalismo em particular. Ele, como eu, não ocultámos a nossa perplexidade ante a regressão que a Imprensa portuguesa tem assinalado, nas duas últimas décadas. Regressão intelectual, moral, ética e estética, estilística, filosófica. Que aconteceu? Uma apressada "licenciatura" em comunicação social e logicamente, uma aberrante entrada nos jornais de pessoas mal preparadas, que são exploradas até ao tutano e, a seguir, atiradas pela porta fora.
O desleixo, a preguiça mental, a mediocridade instalaram-se em todos os sectores da vida nacional. Quando escutamos o prof. Medina Carreira há quem o acuse de apocalíptico e negativista. Porém, ele toca nas questões fundamentais do nosso viver. E há anos que no-lo diz, servindo-se de um idioma luminoso e extremamente pedagógico. Quantos políticos encartados se exprimem com a clareza meridiana de que Medina Carreira é exemplo?, quantos? Acrescente-se que ele é um homem sério, digno e fecundo porque nos ensina sem nada pedir em troca.
A crise moral do País é muito mais grave do que dizem os preopinantes que por aí pululam. Os exemplos, maus, vêm de cima. Como é que os diferentes ramos sociais poderiam ser diferentes? Que fazer? Mudar a vida, transformar o mundo.
PODEM NÃO ESTAR de acordo, e ainda bem!; podem, por vezes, ser mal-educados e até grosseiros, quando ocultam a cobardia no anonimato - mesmo assim, desde que inteligentes, vale a pena lê-los. Ao longo de uma vida de combates e causas tenho sido objecto de comentários azedos e indecorosos. Não me afectam. Já o disse e escrevi em amiudadas ocasiões. Evidentemente, as injúrias ficam com quem as pratica e, acaso esses correspondentes fossem decentes e dignos, escrever-me-iam directamente. O meu correio electrónico está aposto no final das crónicas que subscrevo. E tenho por costume responder a toda a gente.
Mas há políticos, comentadores, analistas, jornalistas que são objecto de frases escabrosas, comportando insultos pessoais. Há quem não aguente esta onda de canalhice. Ainda há tempos, uma jornalista conhecida solicitou, à direcção do diário onde trabalha, a supressão dos "comentários" que leitores desbocados faziam electronicamente. Eram pequenos textos absolutamente repugnantes. Os artigos dessa jornalista atingiam os objectivos a que se propusera: zurzir nos lombos de reaccionários, de biltres e de safados. Estes reagiam com a cobardia de quem não dá a cara.
O escrevinhador anónimo não fornece, somente, a dimensão do infame. Trata-se de um espírito doente, da ordem da psiquiatria, a que os psiquiatras atribuem uma catalogação específica. O correio electrónico quase se transformou num confessionário de medrosos (e de merdosos), habitualmente ressentidos, de Direita, antigos legionários e filhos e netos de pequenos fascistas de trazer por casa.
Há artigos e ensaios que explicam estas situações. A circunstância de não haver regulação permite que indivíduos caluniem todos aqueles que entendam. Geralmente, pessoas de quem não gostam, por este ou aquele motivo, por esta ou por aquela razão. Frequentemente, essas aleivosias seguem a dignidade do visado, pegam-se-lhe como lapas e prejudicam, profundamente, a pessoa e as famílias.
Tenho para mim que a gravidade da questão reside, essencialmente, aí. E como sou absolutamente contra qualquer espécie de censura, prefiro o carácter fraudulento e desprezível do canalha anónimo do que a redução do que ele diz a uma mordaça.
A existência, e a prática, do leitor inteligente permitem que a discussão atinja níveis elevados. No caso vertente, há correspondentes (não me refiro a blogues, bem entendido) cujo grau cívico, intelectual e cultural é tão baixo que repugna. Não é de estranhar. O nível de leitura dos portugueses é baixíssimo; a escolaridade obrigatória não é nada obrigatória; os seus interesses limitam-se ao conhecimento dos nomes dos futebolistas, aos clubes a que pertencem ou a que vão pertencer; e a ter comportamentos selváticos, antes, durante e depois de certos desafios.
Digamos, sem rebuço, que o português comum ignora o que se passa em Portugal nos domínios da política, da arte, da literatura, da ciência. O programa da RTP-1, "Quem quer ser milionário" é elucidativo. Às perguntas mais rudimentares sobre História, Geografia, os concorrentes respondem com autênticas bojardas. E muitos deles possuem cursos superiores!
Na quarta-feira, p.p., o "Público" noticiava que jovens, dos mais qualificados que até hoje existiram no nosso País, estão em debandada para o estrangeiro. Não são nenhum daqueles que aparecem no tal programa, certamente. Mas a imagem de Portugal é-nos também devolvida pela Imprensa que temos. Um Imprensa acrítica, preguiçosa, notoriamente tendenciosa e sempre, ou quase sempre, favorecedora de quem está no poder - ou para lá caminha. O contra-senso é que, entre os mais novos, há excelentes jornalistas… e péssimo jornalismo.
Há dias, o meu velho camarada Germano Silva, grande jornalista e admirável historiador da cidade do Porto, telefonou-me. Discreteámos, levemente, sobre as coisas gerais e sobre o jornalismo em particular. Ele, como eu, não ocultámos a nossa perplexidade ante a regressão que a Imprensa portuguesa tem assinalado, nas duas últimas décadas. Regressão intelectual, moral, ética e estética, estilística, filosófica. Que aconteceu? Uma apressada "licenciatura" em comunicação social e logicamente, uma aberrante entrada nos jornais de pessoas mal preparadas, que são exploradas até ao tutano e, a seguir, atiradas pela porta fora.
O desleixo, a preguiça mental, a mediocridade instalaram-se em todos os sectores da vida nacional. Quando escutamos o prof. Medina Carreira há quem o acuse de apocalíptico e negativista. Porém, ele toca nas questões fundamentais do nosso viver. E há anos que no-lo diz, servindo-se de um idioma luminoso e extremamente pedagógico. Quantos políticos encartados se exprimem com a clareza meridiana de que Medina Carreira é exemplo?, quantos? Acrescente-se que ele é um homem sério, digno e fecundo porque nos ensina sem nada pedir em troca.
A crise moral do País é muito mais grave do que dizem os preopinantes que por aí pululam. Os exemplos, maus, vêm de cima. Como é que os diferentes ramos sociais poderiam ser diferentes? Que fazer? Mudar a vida, transformar o mundo.
«J. Negócios» de 26 Nov 10