domingo, 27 de junho de 2010

«Dito & Feito»

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Por José António Lima

A FANTASIA de lançar um candidato de direita alternativo à recandidatura de Cavaco Silva continua a ocupar o labor de várias mentes. Bagão Félix sugere a Santana Lopes que avance e avisa que, «se isso acontecer, tem de ser encarado com naturalidade e não como uma heresia», pois «daí não virá nenhum mal» ao mundo. Por seu lado, Santana Lopes propõe que seja Bagão Félix a entrar na corrida, exige que a candidatura apareça «até Julho» e teoriza: «Há 2.ª volta nas eleições presidenciais exactamente para poderem ir à 1.ª volta os que sentem que o devem fazer».

Aqui chegados, cabe fazer duas perguntas elementares. Uma candidatura alternativa a Cavaco em nome do quê, para o centro-direita? E em representação de quem ou de que forças políticas? Será que o PSD e o CDS não se revêem politicamente na figura e nos valores defendidos por Cavaco Silva? Ao que se sabe, consta que ambos se revêem e o apoiam. O que sobra ou quem sobra então, nesta área partidária e política, que não se sinta representado? Santana e Bagão? Parece pouco para tão elevado e exigente desígnio. Pouco e muito marginal.

A ideia é arranjar uma espécie de Fernando Nobre de direita, apenas para dificultar a vitória de Cavaco à 1.ª volta, que saia vergado a uma votação residual e desprestigiante? Tratar-se-á, no fundo, de um ajuste de contas políticas mal resolvidas no passado? Ou, tão-só, da irresistível ânsia de protagonismo pessoal?

Não deixa de ser curioso que o mesmo Bagão Félix que agora acha que «daí não virá nenhum mal» ao mundo, pensasse, há menos de um mês, coisa radicalmente diversa, alertando que uma suposta candidatura alternativa «poderia ter sempre o ónus de fazer perigar a vitória do actual Presidente de República». O que terá mudado? Ou quem o terá mudado?

Freitas do Amaral veio, entretanto, avisar que «a ideia de impedir a vitória de Cavaco à 1.ª volta é perigosa». E Freitas sabe bem do que fala. Em 1986, obteve na 1.ª volta 46,3% contra 25,4% de Mário Soares. E perderia as eleições presidenciais para Soares pela escassa diferença de 130 mil votos, na 2.ª volta. Santana e Bagão também estão bem recordados.
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«SOL» de 25 Jun 10