sexta-feira, 25 de junho de 2010

Sem custos

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Por João Paulo Guerra

«SE EU FOR DOIS DIAS ao Algarve é ou não justo que pague (portagens) na Via do Infante?” A pergunta, formulada pelo efémero primeiro-ministro de Portugal de 2004 só agora recebe resposta.

O Governo do PS, apoiado ao governo-sombra do PSD, responde que sim, que seja lá quem for que passe pelas auto-estradas "sem custos para os utilizadores" deve pagar portagem. Mas para que a sugestão de Santana Lopes viesse a ser formalizada não bastou que o ex-primeiro-ministro passasse o testemunho aos socialistas. Foi necessário que os socialistas mudassem de ideias.

Em 2004 Santana Lopes argumentava que as receitas extra das portagens das auto-estradas "sem custos" seriam utilizadas "para aumentar as pensões", promessa comovente mas que não chegou para suster a queda desamparada nas eleições de 2005. E assim chegou ao poder José Sócrates que simplesmente prometeu "manter as portagens grátis". Na campanha para as eleições de 2005, percorrendo o Algarve, o Alto Alentejo e a Beira Interior, essa foi a promessa de José Sócrates mais aplaudida: "com um governo do PS as auto-estradas sem portagens continuarão sem portagem".

Mas entretanto também o PSD chegou ao governo. E pela mão invisível do PSD na governação PS lá vingou a decisão de cobrar portagens nas auto-estradas "sem custos para os utilizadores". Santana Lopes estará finalmente esclarecido.

Tudo isto coloca uma delicada questão de regime. Os cidadãos votam em função de programas e promessas eleitorais e desse modo escolhem uma política e quem a execute. E depois o programa eleito é deitado fora e substituído por medidas que os eleitores maioritariamente rejeitaram. Com uma simples errata: onde se lê "sem custos" agora passa a ler-se "paga e não bufes".
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«DN» de 25 Jun 10