quarta-feira, 9 de junho de 2010

A incapacidade de encontrar

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Por Ferreira Fernandes

A 1 DE MAIO, uma jovem de Lamego saiu de carro e sozinha para o restaurante em que trabalhava, na Régua. Não tendo chegado, colegas alertaram a família, esta, as autoridades e Portugal passou mais de um mês com o mistério de Carina Ferreira. Hipóteses, muitas: acidente, rapto, crime passional ou, tão-só, vontade de uma jovem partir. O caminho entre Lamego e a Régua foi "passado a pente fino", como escrevem os jornalistas, para quem as buscas são sempre a pente fino tal como um líder é sempre carismático. Fizeram-se buscas de helicóptero sobre o Douro e o Balsemão e houve mergulhadores nos rios. Entretanto, a PJ recitava livros de criminologia: "A alteração súbita das rotinas e não se ter mexido nas contas bancárias indiciam estar-se perante um crime." Fizeram-se triangulações dos dois telemóveis da jovem. Surgiram as redes sociais: na Internet, 20 mil pessoas em busca de Carina, no Facebook, 34 mil seguidores amigos. Na queima das fitas coimbrã, uma manifestação por Carina.
Agora, 38 dias depois, a jovem apareceu morta. Numa ravina, a 3 km de casa, na estrada que se presumia que ela tomou, no percurso de uma dúzia de quilómetros entre a casa e o trabalho. O mistério afinal é só um: como é que um Peugeot 106 vermelho passa por pente fino? Se calhar, a resposta é: o espectáculo tapa muito. Não fosse ele, numa zona de ravinas procurava-se nas ravinas.
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«DN» de 9 Jun 10