quinta-feira, 17 de junho de 2010

Frustração

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Por João Paulo Guerra

EM 1972, quando os despojos de D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal foram transladados do Panteão de São Vicente de Fora para o Monumento do Ipiranga, em S. Paulo, as cerimónias do tricinquentenário da independência do Brasil incluíram um torneio de futebol. A selecção de Eusébio, Humberto Coelho, Toni e Artur Jorge chegou à final da Mini-Copa com a de Jairzinho, Rivelino, Gerson e Tostão e perdeu por 0-1, com um golo marcado aos 89 minutos por Jairzinho. Mas em declarações para a Emissora Nacional, um elemento da equipa portuguesa não deixou de sublinhar que Portugal merecia ter ganho o troféu de 11 quilos em ouro e pedras preciosas. E o entrevistado expôs o seu raciocínio: assim como assim, se os portugueses lá deixavam os ossos de D. Pedro seria justo que trouxessem o "caneco" para Portugal.

O futebol - que não é mais que uma competição, um espectáculo e até pode ser uma festa - excede-se nas referências e nas expectativas dos portugueses. E em épocas de crise - que são quase todas em Portugal - o futebol é usado como compensação para frustrações individuais e colectivas. E foi assim que se espalhou a ilusão de que Portugal estaria na calha para conquistar o Mundial.

De maneira que, a esta hora, milhões de portugueses terão acrescentado mais uma frustração à "austera, apagada e vil tristeza" em que vivem. Essa história de ganhar o Mundial, após a adversa e tacanha estreia da selecção, é afinal tão ilusória como uma promessa governamental.
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«DE» de 17 Jun 10